Na retórica de Onyx, o novo é coisa muito antiga
Alguma coisa subiu à cabeça de Onyx Lorenzoni. E não parece ser boa coisa. Tomado pelas palavras, o futuro chefe da Casa Civil foi tomado de assalto por uma sensação qualquer de onipotência e invulnerabilidade. Ele começa a entrar naquele estágio em que as autoridades acreditam que não devem nada a ninguém, muito menos explicações.
Notícia da Folha revelou que Onyx custeou com verbas da Câmara viagens para participar de eventos da campanha presidencial de Jair Bolsonaro. Coisa de R$ 100 mil. Regulamento da Câmara desautoriza o uso do dinheiro da cota de passagens para fins eleitorais. Procurado, o viajante não quis falar. Depois da publicação da reportagem, achou que seria uma boa ideia dizer o seguinte:
"Eu não tenho que me defender de nada. Primeiro, tudo que eu fiz, é público. Segundo, está tudo dentro, rigorosamente, da legislação da Câmara. Eu desafio, me mostra uma passagem paga pela Câmara para a minha campanha a deputado federal no Rio Grande do Sul. Mas, enquanto congressista e deputado, eu tenho a prerrogativa e direito de andar no lugar do Brasil que eu quiser. E eu estava ajudando a construir o que hoje nós estamos vivendo: a transição para um novo futuro para o nosso país e para um novo Brasil." Ai, ai, ai…
Onyx gosta de dizer que é um combatente da trincheira anticorrupção. Seria extraordinário se fosse possível detectar no comportamento de um homem público que não tem que se "defender de nada" uma tolerância zero com malfeitos. Não é o caso de Onyx, às voltas com dois enredos de caixa dois. Num, confessou ter recebido por baixo da mesa R$ 100 mil em 2014. Pediu desculpas e seguiu em frente. Noutro, guerreia no STF contra a suspeita de recebimento de outros R$ 100 mil em 2012.
Quem é acusado de voar ilegalmente para eventos da campanha presidencial de Bolsonaro e lança um desafio para que lhe mostrem "uma passagem paga pela Câmara para a minha campanha a deputado federal no Rio Grande do Sul" abusa da paciência alheia. Deputado que acredita ter o "direito de andar no lugar do Brasil que eu quiser" cutuca o contribuinte com o pé, para ver se ele morde.
De resto, alquém que usa verba pública como se fosse dinheiro grátis pode até achar que está "ajudando a construir […] um novo Brasil". Mas está, na realidade, fazendo uma opção preferencial pelo cinismo.
Incapaz de enxergar as moléstias que infestam a política nacional, Onyx dedica-se a retocar a radiografia: "A Folha de S.Paulo é um desses veículos que não se convenceu com a vitória do Bolsonaro. E está no terceiro turno. Bem-vindos ao terceiro turno. Mas a gente não se assusta, porque sabemos que estamos com a verdade. Eu tenho tranquilidade absoluta. O bom para a Folha era o Haddad e o PT de volta."
Se o novo chefe da Casa Civil continuar agindo assim, o PT ainda vai processá-lo por plágio. Imaginando-se invulnerável, o petismo passou os últimos 16 anos ladrilhando com pedrinhas de onipotência o seu próprio caminho para o inferno. Ou seja: Onyx ostenta uma retórica em que o novo é coisa muito antiga.
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