Ao manter Marun em sinecura, o capitão piscou
Ao final da primeira reunião ministerial presidia por Jair Bolsonaro, o chefe da Casa Civil Onyx Lorenzoni colocou sob suspeição todos as despesas, nomeações e exonerações feitas nos últimos 30 dias do governo de Michel Temer. Pelo "alto volume, causou estranheza", disse o ministro. Por ordem de Bolsonaro, os derradeiros atos da gestão de Temer passarão por um pente-fino.
Quem ouve Onyx falando fica com a impressão de que passou a vigorar no governo da República uma política de tolerância zero com as esquisitices e as suspeições. Não é bem assim. Há sobre a mesa um ato de Temer que dispensa averiguações. Foi noticiado em todos os meios de comunicação. Trata-se da nomeação do ex-ministro Carlos Marun para o posto de conselheiro da hidrelétrica de Itaipu.
A marquise de Itaipu é cobiçadíssima. Ali, trabalha-se pouquíssimo. Uma reunião a cada dois meses. E ganha-se muitíssimo: Coisa de R$ 27 mil por mês. Ex-comandante da milícia legislativa que defendeu o presidiário Eduardo Cunha na Câmara, Marun perdeu o cargo de ministro de Temer e ficará sem o mandato de deputado a partir de fevereiro. Se o rigor anunciado por Onyx fosse autêntico, Marun já estaria no olho da rua. Mas Bolsonaro decidiu mantê-lo no conforto da folha de Itaipu.
Em dezembro de 2017, Temer já havia acomodado em Itaipu Samantha Ribeiro Meyer. Ela é ex-mulher do ministro Gilmar Mendes, do STF. Para Bolsonaro, tudo OK. Esse tipo de nomeação deu ao pedaço brasileiro da estatal binacional uma aparência de Casa da Mãe Joana. Na era do PT, passaram pelo conselho de Itaipu o ex-tesoureiro petista João Vaccari, hoje um presidiário da Lava Jato; e companheiros como Jaques Wagner e Aloizio Mercadante.
Podendo moralizar, Bolsonaro optou por manter a fuzarca. O capitão piscou. Não demora e haverá em Itaipu apaniguados de Bolsonaro.
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