Doria aplica ao caso Kassab a lógica do absurdo
O novíssimo governador de São Paulo, João Doria, iniciou sua gestão com uma originalidade. Doria escolheu Gilberto Kassab para a função de secretário-chefe da Casa Civil. Em dezembro, antes da posse, Kassab foi atropelado por um inquérito em que é investigado sob a suspeita de receber R$ 58 milhões em verbas sujas do grupo J&F. Empossado, Doria nomeou Kassab. Três dias depois da posse, o Diário Oficial do Estado publicou o pedido de licença de Kassab.
Ao nomear o investigado, Doria lavou as mãos. Até aí, nada de novo. Muitos políticos procedem da mesma forma lamentável. Ao autorizar a licença de alguém que nem tinha começado a trabalhar, Doria como que sumiu com o sabonete. Aí está a originalidade. Antes, ministros e secretários tornavam-se problemáticos no exercício dos cargos. Kassab é uma encrenca que chegou pronta. Doria imagina que a licença torna a nomeação limpinha.
O eleitor não gosta daquilo que não entende. E Doria capricha na falta de nexo. Ele alega que não acha justo cumprir papel de juiz. Nem precisa. Basta que seja governador. Doria argumenta que, inocentado, Kassab voltará ao cargo. Condenado, não voltará. Uma criança de cinco anos perguntaria: não teria sido mais apropriado evitar a nomeação? Dependendo do resultado do processo, Doria renovaria o convite a Kassab. Ou não. Com a vantagem de poupar o brasileiro da imagem de um secretário dividido entre o banco dos réus e o banco de reserva da Casa Civil do maior Estado do país.
O que há de mais original na lógica aplicada por Doria no caso de Kassab é que ela tem cara cara de lógica, tem rugido de lógica, tem rabo de lógica, mas é o mais puro absurdo. Graças à falta de sentido, o novo governador de São Paulo acaba reforçando uma velha e incômoda sensação. A sensação de que nada se perde, nada se cria na política. Tudo se corrompe.
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