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Josias de Souza

Após felicitar Renan, Bolsonaro liga para rivais

Josias de Souza

31/01/2019 22h42

A reunião da bancada de senadores do MDB mal havia terminado quando Jair Bolsonaro tocou o telefone para Renan Calheiros. Felicitou-o pela vitória contra Simone Tebet, que fez dele o candidato oficial da legenda à presidência do Senado. Com a velocidade de um raio, Renan espalhou a notícia. Bolsonaro irritou-se. Contava com a discrição do interlocutor. Para não ficar mal, pôs-se a telefonar para os rivais de Renan, entre eles seu principal desafeto, o tucano Tasso Jereissati, e o preferido do ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil), o correligionário Davi Alcolumbre, do DEM.

Renan esforçava-se nos últimos dias para encostar suas pretensões no governo de Bolsonaro. Velho aliado do PT, o senador do MDB precisa dos votos do bloco governista, cujo DNA é antipetista. Nesse contexto, o telefonema do presidente foi recebido como um presente. Detalhista, Renan mandou vazar que, além de ligar, Bolsonaro convidou-o para uma reunião, na semana que vem. Ficou entendido que o capitão dá como favas contadas a vitória do coronel da política alagoana.

Internado no hospital Albert Einstein, Bolsonaro recebeu ordens médicas para fechar a matraca, como se diz. O silêncio evita a formação de gases no abdômen do recém-operado. Porém, a indiscrição de Renan obrigou o paciente a mover os lábios mais do que desejaria. Bolsonaro explicou aos adversários que o telefonema para Renan não se confunde com apoio. Reiterou a intenção de não se envolver na disputa. Disse que deseja dialogar com o eleito, seja quem for.

Para não deixar dúvidas, o paciente do Eisntein desperdiçou parte do seu repouso noturno para pendurar no Twitter um par de notas. Numa, escreveu: "Procuramos diplomaticamente fazer contato com os candidatos, desejando-lhes boa sorte." Noutra, tentou vacinar-se: "Qualquer tentativa de desvirtuar o papel institucional do governo diante desses fatos é desprovida de boa-fé e de profissionalismo."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.