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Josias de Souza

Renan, o ex-gigante, sofre nas mãos de um Davi

Josias de Souza

02/02/2019 04h08

Aliada de Renan, Kátia Abreu retira de Davi a pasta com o roteiro da sessão, forçando a interrupção

Renan Calheiros (MDB-AL) presidiu o Senado quatro vezes. Numa, foi alçado ao posto como candidato único. Não havia quem o desafiasse. Noutras três, prevaleceu sobre rivais de reconhecida densidade política. Hoje, Renan molha o paletó num embate contra um certo Davi Alcolumbre (DEM-AP) que, até a semana passada, transitava pelos corredores do Senado como um inexpressivo terceiro suplente da Mesa Diretora. Às voltas com o risco de derrota, Renan e seu grupo forçaram o adiamento do embate para este sábado. E pediram socorro ao Supremo Tribunal Federal.

Renan tornou-se um gigante subitamente minoritário. Na noite desta sexta-feira (1º), em sessão presidida por Davi, o eleitorado potencial do ex-golias de Alagoas foi reduzido a 30 votos num colégio de 81 senadores. O tamanho de Renan foi medido em votação prévia, na qual estava em jogo o tipo de voto a ser utilizado na disputa pelo comando do Senado: secreto ou aberto? O breu favorece Renan. A transparência afugenta parte dos seus eleitores, receosos do vínculo com a imagem radioativa do candidato.

Sob protestos do grupo pró-Renan, a proposta de voto aberto foi aprovada por 50 senadores. Ficou entendido que apenas 30 colegas se dispõem a expor a cara no painel eletrônico para prestigiar a quinta candidatura de Renan à presidência do Senado. Descontado o seu próprio voto, o ex-gigante precisaria de pelo menos mais dez aliados para atingir a marca de 41 votos, quantidade mínima necessária para vencer. Os votos que faltam só virão se for restabelecida a escuridão, admitem os aliados de Renan. Daí o tumulto produzido na sessão e o recurso protocolado no Supremo na calada da noite.

Em tese, mantida a transparência, um adversário de Renan teria um potencial de 50 votos numa disputa mano a mano. Como pelo menos sete senadores exibem a disposição de medir forças com Renan, essas cinco dezenas e votos seriam pulverizadas. E a disputa escorregaria para um segundo turno. Pela lógica do voto aberto, Renan iria para esse round como candidato favorito a fazer do seu rival o próximo presidente do Senado.

Escorando-se no apoio do ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil), seu companheiro de DEM, Davi Alcolumbre tenta consolidar-se como principal adversário do ex-golias. Desafeto de Renan, Tasso Jereissati (PSDB-CE) retirou-se da disputa para que a bancada tucana —ou a maior parte dela— possa votar em Davi já no primeiro turno.

Renan jamais experimentou semelhante sufoco. Em 2005, sem adversários, ele foi alçado à presidência do Senado com 72 votos dos 81 disponíveis. Em 2007, foi reeleito com 51 votos, contra 28 atribuídos ao adversário da época, José Agripino Maia (DEM-RN). Em 2013, Renan bateu Pedro Taques (PSDB-MT) por 54 votos contra 18. Em 2015, no seu pior desempenho, Renan foi reeleito com 49 votos, contra 31 amealhados por Luiz Henrique da Silveira (MDB-SC). Em todas essas eleições o voto foi secreto. Renan espera que o presidente do Supremo, seu amigo Dias Toffoli, apague a luz do painel eletrônico do Senado até as 11h deste sábado (2), horário previsto para a retomada da disputa.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.