Pacote de Moro traz o que Bolsonaro prometeu
Eleito pelo sentimento antipetista e pela ruína moral do sistema partidário, Jair Bolsonaro aguçou a fome de limpeza do seu eleitorado transferindo Sergio Moro da Lava Jato para o Ministério da Justiça. Terminado o primeiro mês do novo governo, Moro levou à mesa o seu pacote anticrime. Pode-se dizer qualquer coisa sobre o cardápio oferecido por Moro, menos que se trata de um menu cheio de surpresas. O ex-juiz serviu, com tempero judicioso, aquilo que o capitão oferecera aos 57 milhões de brasileiros que votaram nele.
Derrotado por Bolsonaro no segundo turno da disputa presidencial, o petista Fernando Haddad foi ao Twitter para lamentar: "Li o pacote anticrime do Moro: para quem esperava o Plano Real da Segurança, que viesse solucionar problemas relativos à criminalidade, letalidade policial, genocídio da população negra, superpopulação carcerária etc., as medidas anunciadas são frustrantes e contraproducentes." Ai, ai, ai….
Haddad talvez não se lembre. Mas Bolsonaro prometia liberar a posse de armas, não resolver os problemas da criminalidade. Estava preocupado não com as estatísticas sobre a "letalidade policial", mas com a legalização do "excludente de ilicitude", um outro nome para "bandido bom é bandido morto". Estava pouco se lixando para a superpopulação carcerária: "Cadeia é como coração de mãe, sempre cabe mais um", dizia Bolsonaro, para entusiasmo de suas plateias.
Ironicamente, Haddad evitou incluir em seu comentário uma menção qualquer ao pedaço do pacote de Moro que trata do aperfeiçoamento da legislação anticorrupção. Natural. Na área dos costumes, desde que a cúpula do PT aprendeu o caminho da cadeia na crise do mensalão, seus candidatos mostraram-se incapazes de lidar com o tema da moralidade. A coisa piorou com o tempo. E Haddad teve de substituir Lula, um presidiário condecorado pela Lava Jato.
O pacote de Moro foi ao Congresso na forma de projeto de lei. O ex-juiz revela uma disposição inaudita para o diálogo. No final, sobrará o que os representantes do povo quiserem aprovar. Os eleitores do capitão observam a cena do alto das redes sociais. Cutucam os inimigos da nova agenda com o pé, avisando que aprenderam a morder. O PT vive sua autocombustão como se tivesse esquecido o que fez no verão passado. A credibilidade do PSDB ficou do tamanho do Aécio. A do PMDB tem a dimensão do Renan.
Nas pegadas do pacote de Moro sobre o combate à corrupção, ao crime organizado e aos crimes violentos, vêm aí as reformas liberais do ministro Paulo Guedes (Economia). Haddad talvez tenha novas decepções, pois Bolsonaro foge do modelo de Dilma Rousseff, que se apropriou da agenda de Aécio Neves, cuja demonização foi decisiva para reelegê-la em 2014. De novo: pode-se acusar Bolsonaro de muita coisa, exceto de ter virado um anti-Bolsonaro ou de estar praticando o crime de estelionato eleitoral.
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