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Josias de Souza

À espera de Bolsonaro, governo protela decisões

Josias de Souza

08/02/2019 05h09

A hospitalização duradoura de Jair Bolsonaro deixa inquietos alguns dos seus ministros e auxiliares. Decisões governamentais estratégicas vêm sendo postergadas à espera da recuperação clínica do presidente. Estimava-se que o paciente receberia alta nesta semana, entre quarta e quinta-feira. Mas os imprevistos aviltaram as previsões. Depois do diagnóstico de pneumonia, os médicos evitaram fixar uma nova data para a liberação de Bolsonaro.

Há no Planalto uma pilha de interrogações. Por exemplo: qual será a prioridade legislativa do governo no Congresso, o pacote anticrime de Sergio Moro ou a reforma da Previdência de Paulo Guedes? Em fase final de retoques, o embrulho do Ministério da Justiça deve ser remetido imediatamente ao Congresso ou será necessário esperar por Bolsonaro? Na mexida previdenciária, haverá uma única idade mínima para a aposentadoria ou a regra deve ser menos draconiana para as mulheres?

Do ponto de vista formal, Bolsonaro reassumiu a Presidência da República em 30 de janeiro, apenas 48 horas depois de se submeter à cirurgia para retirada de uma bolsa de colostomia. Na prática, o paciente não recebeu nenhum ministro no gabinete improvisado para ele no hospital Albert Einstein. Nem receberá, pois os médicos restringiram as visitas.

Enquanto a palavra final de Bolsonaro não chega, ministros e aliados vão batendo cabeça. No momento, a questão mais candente está relacionada à ordem dos projetos na fila de tramitação do Congresso.

Uma ala defende que o pacote de Moro seja votado em primeiro lugar, como uma espécie de teste. As medidas propostas pelo ex-juiz da Lava Jato constam de projeto de lei, cuja aprovação seria, em tese, mais fácil do que a mexida na Previdência. Outro grupo avalia que não se deve gastar energias com outros temas enquanto a Previdência não for reformada.

No fundo, o debate esconde uma debilidade maior do que a incapacidade do governo de decidir: a falta de votos. Num governo que dispõe de maioria inquestionável nos plenários da Câmara e do Senado, a ordem de prioridades não altera o produto das votações.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.