Se Bebianno ficar, capitão será Napoleão do Twitter
Jair Bolsonaro revelou-se nas últimas horas um presidente dotado de notável autossuficiência. Ele se basta a si próprio, não precisa de oposição. No caso do ministro Gustavo Bebianno, Bolsonaro juntou a lenha, ele mesmo riscou o fósforo, ele mesmo borrifou gasolina no fogo, ele mesmo pulou na fogueira. Descobriu-se que o presidente da República é um mestre na arte de magnificar os problemas que ele cria para si mesmo.
Como tudo no governo de Bolsonaro, a coisa começou no Twitter. Carlos Bolsonaro, filho e 'pitbull' do presidente, chamou de "mentiroso" Gustavo Bebianno, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência. Descobriu-se depois que o filho 'Zero Dois' torpedeara o ministro com o aval do pai. Isso ficou claro porque Jair Bolsonaro ecoaria o filho no Twitter e numa entrevista à Record, sua emissora de estimação.
Bolsonaro informou ao país que, além de manter uma relação frágil com a verdade, Bebiano é suspeito. Por isso, ordenou ao ministro Sergio Moro que investigasse, com a PF, a denúncia de envolvimento do ministro no escândalo do repasse de verbas públicas do fundo eleitoral para candidaturas laranjas do PSL. O presidente afirmou que o ministro talvez tivesse que "retornar às suas origens", fora do governo.
Imaginou-se que, humilhado, Bebianno pediria pra sair. Deu-se, porém, o contrário. O ministro pagou pra ver. Mobilizou seus amigos no Congresso, articulou-se com o pedaço fardado do governo e pronunciou meia dúzia de declarações esquisitas. Por exemplo: "Não sou moleque, e o presidente sabe. O presidente está com medo de receber algum respingo."
Quem nomeia e demite ministros, como se sabe, é o presidente. Ao manter Bebianno no cargo Bolsonaro autorizou o país a enxergá-lo como um Napoleão do Twitter. É só ali, no ambiente volátil das redes sociais, que Bolsonaro é invencível. Na vida real, o capitão apavora-se com uma insinuação qualquer. Enxerga num reles subordinado "mentiroso" o risco de um Waterloo.
— Leia aqui notícia sobre a meia-volta de Jair Bolsonaro, que recolocou Gustavo Bebiano no rumo da porta de saída do governo.
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