Queda de Bebianno revela-se inútil e desastrosa
A operação que resultou no afastamento de Gustavo Bebianno revelou-se uma inútil e desastrosa iniciativa política. Foi inútil porque o envio do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência para o olho da rua, não afastou o laranjal do PSL da figura do presidente, pois o ministro Marcelo Alvaro Antonio, envolvido no mesmo escândalo, continua dando expediente na pasta do Turismo. Foi desastrosa porque Bolsonaro conseguiu manter o problema velho criando duas encrencas novas: ganhou um desafeto detentor de muitos segredos e tornou-se um interlocutor inconfiável aos olhos dos congressistas com os quais o Planalto terá de negociar a aprovação da reforma da Previdência e do pacote anticrime.
Depois de fazer sua opção pelo desastre, Bolsonaro terá de molhar o paletó para livrar-se dos efeitos da crise que criou para si mesmo. O primeiro desafio será o de manter a língua de Bebiano dentro da boca. O presidente cuidou de divulgar um vídeo em que elogia o ministro "mentiroso". Há, de resto, intermediários encarregados de medir a pressão do personagem. Mas nada assegura que a humilhação a que Bebianno foi submetido não fará ferver a sua paciência. Simultaneamente, o presidente precisará convencer deputados e senadores de que sua palavra merece crédito mesmo depois de ter jogado ao mar um ministro declaradamente leal.
Se fosse votada hoje, a reforma da Previdência seria sepultada. Embora se declare avesso ao toma-lá-dá-cá, Bolsonaro terá de encostar o estômago no balcão para obter os 308 votos de que necessita na Câmara e os 49 de que precisa no Senado. A viabilidade do novo governo depende do crescimento da economia. Em política, não há popularidade sem prosperidade. E o ministro Paulo Guedes (Economia) condiciona a reação do PIB à mexida na Previdência. Os congressistas sabem disso. E a banda fisiológica do Legislativo venderá caro os seus votos. Nesse ambiente, filhos interferindo no governo do pai, por exemplo, não representam um problema, mas uma oportunidade de negócios.
A inutilidade desastrosa do afastamento de Bebianno serviu para encarecer o processo de tramitação legislativa das reformas prometidas por Bolsonaro. O sistema político é paradoxal. Ele permite que maluquices encantem parte do eleitorado e cheguem ao Planalto. Mas seus representantes no Congresso e no mercado financeiro não costumam bater palmas para maluco dançar. O governo de Bolsonaro tem pressa. Entretanto, os congressistas olham para a conjuntura encrespada com a sensação de que não perdem por esperar. Ganham!
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