Reforma deve passar, resta saber tamanho e custo
Das várias maneiras para se atingir o desastre no governo do capitão, a movimentação da família Bolsonaro é a mais rápida; a vocação do ministro Paulo Guedes para o sincericídio, a mais divertida; e a dimensão do ego do ministro Onyx Lorenzoini, a mais cara. Isolando-se os fios desencapados do presidente e de sua prole, modulando-se a loquacidade do Posto Ipiranga e trazendo para o solo a articulação política flutuante da Casa Civil, são grandes, muito grandes, enormes as chances de aprovação da reforma da Previdência no Congresso. Resta saber qual será o tamanho da mexida e o custo da tramitação legislativa.
A reforma de Bolsonaro é mais ambiciosa do que a de Michel Temer. Afora uma ou outra maldade com os mais pobres, há na nova proposta uma pretensão de impor um tratamento mais draconiano aos ricos e à nata do funcionalismo público, reduzindo o fosso que separa esses nichos da massa que se espreme na iniciativa privada. O governo se dispõe a corrigir a grande distorção que foi resumida por Paulo Guedes numa frase, semanas atrás: Hoje, "quem legisla e julga tem as maiores aposentadorias e a população, as menores". Fácil de diagnosticar, difícil de curar.
A disposição da maioria dos congressistas para aprovar a reforma é nítida. Menos por amor à pátria do que por um sentimento de sobrevivência. A breca fiscal do Estado retira dos parlamentares a possibilidade "fazer políticas públicas", diz o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Não há dinheiro para nada. Vem daí, sobretudo, o viés pró-reforma.
Entretanto, mente quem disser que a tramitação da emenda constitucional será rápida e tranquila. As corporações encherão os corredores e as galerias do Congresso. Os parlamentares valorizarão os respectivos passes, exigindo a reativação do balcão. É improvável que saia desse processo a reforma ideal. Com a experiência de quem viveu 28 anos de mandato parlamentar, Bolsonaro já se resignou. Deseja a "reforma possível", não a "reforma ideal".
Com sorte, a Câmara entrega alguma reforma antes do recesso de julho. Com muita sorte, o Senado conclui até o Natal. Reze-se para que o capitão consiga governar sem praticar seu esporte predileto: tiro contra o próprio pé.
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