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Josias de Souza

Quando Maduro morde, deixa mal alguém no Brasil

Josias de Souza

21/02/2019 16h29

Cada vez que Nicolás Maduro dá uma de cachorro louco constrange alguém no Brasil. Quando a Venezuela fecha suas fronteiras para evitar a entrada de ajuda humanitária, o PT precisa explicar por que é amigo do ditador. E o governo Bolsonaro fica devendo uma justificativa qualquer para o fato de ter empurrado o Brasil para a incômoda posição do gigante regional que abdicou de sua relevância para se tornar um asterisco diplomático a reboque dos Estados Unidos.

Ironicamente, Maduro macaqueia um comportamento comum entre os presidentes americanos. O sucessor de Hugo Chávez guia-se pela máxima segundo a qual a melhor maneira que um presidente tem de unir a nação em seu apoio é declarar guerra a outro país. Nada funciona melhor para resolver as divisões internas dos Estados Unidos do que o ataque a um inimigo externo. A fórmula não serve, porém, para a Venezuela de Maduro.

Sem condições financeiras e técnicas de ordenar bombardeios contra Washington ou Brasília, o ditador dedica-se a assassinar o seu próprio povo. Faz isso ao impedir a entrada de comida e remédios que salvariam a vida de venezuelanos em situação de desespero. Inibe, de quebra, a fuga dos desesperados para países vizinhos como o Brasil e, sobretudo, a Colômbia.

No caso do PT, o mais constrangedor não é a ausência de um pedido de desculpas da presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, por ter prestigiado a posse do cachorro doido. Mais embaraçoso do que o silêncio de Gleisi é a ausência de barulho dos seus companheiros. Ao calar, o petismo transforma a aliança de sua presidente com o doido num processo de desmoralização do partido.

No caso do governo Bolsonaro, o que mais incomoda não é a estridência, mas a ineficiência de suas posições contra Maduro. O mal de as pessoas entrarem numa briga latindo no mesmo tom do cachorro louco é o pessoal que observa de longe não distinguir quem é quem. Por sorte, Bolsonaro prepara uma visita aos Estados Unidos. Decerto voltará com boas orientações de Donald Trump, uma sensata criatura.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.