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Josias de Souza

Dois meses de poder ensinaram algo a Bolsonaro

Josias de Souza

28/02/2019 20h06

O governo de Jair Bolsonaro faz aniversário de dois meses. Pouco tempo. Mas já foi o bastante para submeter o personagem a um choque de realidade. Tomado por seus últimos movimentos, Bolsonaro parece ter percebido que, em 1º de janeiro, assumiu o poder embalado pelo pior tipo de ilusão que pode acometer um presidente da República. A ilusão de que preside.

O exercício do poder ensina que, mesmo um presidente que possua itinerário claro, não dirige sozinho os rumos do país nessa ou naquela direção. Bolsonaro produziu tantos curtos-circuitos que até alguns de seus auxiliares passaram a questionar a eficácia do seu estilo —ou da ausência dele. A boa notícia é que o capitão passa a impressão de que começou a dar ouvidos às críticas.

Em conversa com um grupo de 13 jornalistas que desfrutam da sua confiança, Bolsonaro reconheceu a importância da imprensa para a democracia, mostrou-se aberto à negociação dos termos de sua reforma previdenciária com o Congresso e disse que passou a filtrar as postagens do filho Carlos Bolsonaro nas redes sociais. "Nenhum filho meu manda no governo", declarou.

No mundo real, o poder efetivo de um presidente não vai muito além dos quatro andares do Palácio do Planalto. Fora desse ambiente, o poder presidencial tende a se dissipar nos desvãos da máquina estatal. Uma das principais atribuições do presidente é a de gerenciar o entrechoque de forças subterrâneas. Um presidente pode governar essas forças ou ser governado por elas. Nesse ambiente, quem fabrica crises do nada acaba transformando trono em cadeira elétrica. Bolsonaro parece ter percebido isso. Tomara!

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.