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Josias de Souza

Toffoli abre gaveta e devolve Mantega a Curitiba

Josias de Souza

01/03/2019 01h39

Às vésperas do feriadão do Carnaval, o ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, abriu a gaveta. Retirou de dentro do compartimento o ex-ministro petista Guido Mantega. Devolveu o personagem à Lava Jato de Curitiba. Toffoli fez isso depois que foi noticiado aqui, há dez dias, que o seu habeas-gaveta estava prestes a premiar Mantega com a prescrição de um naco da pena a que está sujeito num processo que envolve o recebimento de propina de R$ 50 milhões da Odebrecht.

Denunciado pela força-tarefa de Curitiba, Mantega foi convertido em réu quando o juiz da 13ª Vara Federal da capital paranaense ainda era Sergio Moro. Em setembro do ano passado, Toffoli trancou a ação penal. Transferiu o caso para a Justiça Eleitoral de Brasília. No mês seguinte, outubro de 2018, a juíza eleitoral Mônica Iannini Malgueiro considerou que não havia crime eleitoral a ser investigado. Devolveu os autos à Lava Jato.

Desde então, aguardava-se por uma decisão de Toffoli que destravasse o julgamento de Mantega, seu ex-colega de ministério na gestão Lula. A gaveta do presidente do Supremo só foi aberta na última quarta-feira (27/2). Em despacho de sete folhas, Toffoli concluiu que a reclamação em que Mantega solicitara a transferência dos autos para a Justiça Eleitoral estava "prejudicada por perda superveniente de objeto."

A demora de Toffoli em constatar o óbvio premiava o réu, pois Mantega fará aniversário de 70 anos em 7 de abril. Os prazos de prescrição dos crimes atribuídos a ele serão cortados pela metade. Assim, a juíza Gabriela Hardt, substituta de Sergio Moro, terá de fazer às pressas o que Toffoli não permitiu que fizesse com calma. Trava-se agora uma corrida contra o relógio. Passada a Quarta-feira de Cinzas, a magistrada terá 31 dias para proferir sua sentença.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.