Ministro suspeito envelhece a gestão Bolsonaro
Jair Bolsonaro especializa-se na arte de armar emboscadas para si mesmo. Ordenou a Sergio Moro, ministro da Justiça, que acionasse a Polícia Federal para investigar o caso das candidaturas laranjas do seu partido, o PSL. Simultaneamente, manteve na pasta do Turismo um dos personagens mais enrolados no escândalo do laranjal, o ministro Marcelo Álvaro Antônio. A dicotomia deu à luz um paradoxo: a defesa do ministro do Turismo busca no Supremo Tribunal Federal proteção contra a curiosidade da polícia do ministro da Justiça e do Ministério Público.
A situação de Marcelo Antônio é cada vez mais precária. Surgiu em Minas Gerais uma personagem, Zuleide Oliveira, que acusa diretamente o ministro do Turismo de tê-la convidado para ser uma candidata-laranja do PSL nas eleições passadas. Nessa versão, a intenção de desviar verbas do fundo partidário foi explicitada no convite. A Polícia Federal de Sergio Moro se equipa para interrogar a denunciante.
Simultaneamente, o investigado Marcelo Antônio renova no Supremo o pedido para que a encrenca seja exportada de Minas Gerais para Brasília. Ele alega que dispõe do velho e bom foro privilegiado. O ministro Luiz Fux já decidiu que o escudo não vale para o laranjal. Mas o auxiliar de Bolsonaro voltou à carga. Pede que seu recurso seja julgado pelo plenário do Supremo. Marcelo Antônio virou uma caricatura de si mesmo. Faz o que pode para travar investigações que ele mesmo exalta como vitais para provar sua hipotética inocência.
O governo Bolsonaro tem 22 ministros. Sete ostentam algum tipo de suspeição. Isso seria deplorável em qualquer circunstância. Mas o convívio com a interrogação moral torna-se um escárnio num governo que é comandado por um presidente que se elegeu enrolado na bandeira da ética. No caso de Marcelo Antônio, cuja biografia se liquefaz como sorvete no Sol, ao mantê-lo na poltrona de Ministro do Turismo, Bolsonaro transforma o derretimento de um ministro num processo de envelhecimento precoce de um governo que começou faz dois meses.
– Atualização feita às 22h21 desta quinta-feira (7/03): A assessoria do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) informou que ele mandou que seus advogados desistam do recurso protocolado no STF.
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