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Josias de Souza

Guerra interna do MPF é prêmio para corruptos

Josias de Souza

14/03/2019 21h07

Já se sabia que a procuradora-geral da República Raquel Dodge e os membros da força-tarefa de Curitiba não discutem. Descobre-se agora que, na verdade, eles já nem se falam. O Ministério Público Federal está em pé de guerra. Dodge decidiu disparar contra os procuradores. Não se assuste. Você não ouviu mal. É isso mesmo. A chefe da Procuradoria abriu fogo contra a Lava Jato, o núcleo mais prestigiado da instituição sob seu comando.

A Lava Jato tem cinco anos. Fará aniversário no domingo. Nesse período, a operação colecionou inimigos poderosos. Muitos tentaram arruinar o núcleo de Curitiba. Mas foi preciso uma amiga, Raquel Dodge, para completar o serviço. A procuradora-geral e a força-tarefa guerreiam ao redor de uma quantia bilionária: R$ 2,5 bilhões. Dinheiro proveniente de uma penalidade aplicada contra a Petrobras nos Estados Unidos por prejuízos causados a investidores daquele país.

Por acordo, um pedaço da verba ficará no Brasil. E a Lava Jato celebrou um acerto com a Petrobras para usar na criação de uma fundação. Disseminou-se a impressão de que os procuradores foram além de suas sandálias. Levaram tanta pancada que recuaram. Tentam agora criar um fundo federal anticorrupção, a ser aprovado pelo Congresso. Dodge poderia ter tomado conhecimento do recuo. Mas como não fala com os procuradores, protocolou no Supremo um pedido de anulação do acordo com a Petrobras. Se isso acontecer, diz a Lava Jato, a verba vai para os Estados Unidos.

Há mais e pior: a guerra entre Brasília e Curitiba ocorre contra um pano de fundo marcado pela sucessão interna na Procuradoria-Geral da República. O mandato de Raquel Dodge termina em setembro. O grupo da procuradora suspeita que o ministro Sergio Moro, ex-juiz da Lava Jato, deseja convencer Jair Bolsonaro a guindar ao comando da Procuradoria o coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, que nega interesse. Quando procuradores brigam entre si, os corruptos do Brasil não perdem por esperar. Ganham.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.