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Josias de Souza

Vélez virou um ex-ministro no exercício do cargo

Josias de Souza

15/03/2019 17h00

Guru da família Bolsonaro, o polemista Olavo de Carvalho sequestrou o Ministério da Educação. Exige um resgate atrás do outro. O presidente da República cumpre à risca cada exigência. Mas o sequestrador se recusa a libertar o MEC. A situação produziu uma aberração administrativa. Uma das pastas mais estratégicas do governo, dona do terceiro orçamento da Esplanada (R$ 122 bilhões) é comandada pelo guru Olavo desde o seu bunker, em Richmond, na Virginia, nos Estados Unidos. Em Brasília, mantido no gabinete ministerial como peça decorativa, o colombiano naturalizado Ricardo Vélez Rodríguez tornou-se um ex-ministro da Educação ainda no exercício do cargo.

Vélez chegou à poltrona de ministro graças à indicação de Olavo de Carvalho. Às vésperas do Carnaval, descobriu que não passava de uma alegoria no enredo do guru da Virginia. A ficha lhe caiu no instante em que removeu um grupo de "olavetes" de seua cargos, enviando-os para postos de relevância inferior. Abespinhado, o guru transformou o MEC num puxadinho de suas redes antissociais. Atribuiu a ideia de promover uma dança de cadeiras ao coronel-aviador Ricardo Roquetti. Exigiu que o militar, egresso do ITA, fosse expurgado de uma "diretoria de programas". Bolsonaro convocou Vélez ao Alvorada e ordenou que a cabeça de Roquetti fosse à bandeja.

Ao notar que os poderes divinos que exerce sobre o presidente são ilimitados, Olavo soltou seus trovões sobre a cabeça do secretário-executivo Luiz Antônio Tozi, número dois na hierarquia do MEC. Novamente, Bolsonaro determinou a Vélez que fizesse o pagamento do resgate. Foi à vaga de Tozi, na terça-feira (12), Rubens Barreto da Silva. A novidade não foi bem recebida no bunker de Virginia, que disparou seus raios que os partam. Barreto da Silva foi carbonizado em 48 horas. Na quarta-feira (14), Vélez trocou-o pela evangélica Iolene Maria de Lima.

Vélez ainda não percebeu. Mas a carnificina do MEC aproximou seu próprio pescoço da Guilhotina. Ministros fardados aconselham Bolsonaro livrar-se do pseudo-ministro, que virou uma exoneração esperando para acontecer. Sem alarde, analisam-se nomes alternativos. Os auxiliares militares recomendam também ao presidente que tome distância de Olavo de Carvalho. Não obtiveram nenhum tipo de sinalização. Algo que estimula nos subterrâneos de Brasília a impressão de que o guru da Virginia não sequestrou apenas pedaços da Esplanada. Raptou a própria Presidência da República.

— Atualização feita às 23h57 desta sexta-feira (15):  A Casa Civil da Presidência barrou novamente a tentativa de Vélez Rodrígues de preencher o segundo cargo na hierarquia do MEC. Olavo de Carvalho, o ministro de fato, levou o pé à porta uma vez mais. Bloqueou a passagem de Iolene Lima.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.