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Josias de Souza

Carlos Bolsonaro posa de articulador no Planalto

Josias de Souza

18/03/2019 19h42

Vereador no Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro deu expediente, por assim dizer, em Brasília nesta segunda-feira. Reuniu-se com deputados federais. De manhã, passou pelo Palácio do Planalto. Antes do almoço, foi ao prédio do Congresso. Tudo isso num dia em que o pai Jair Bolsonaro estava em Washington e o vice Hamilton Mourão visitava o governador João Doria em São Paulo.

No Twitter, seu habitat natural, o filho 'Zero Dois' do presidente da República explicou que se dedicava a "desenvolver linhas de produção solicitadas pelo presidente". Alguns de seus seguidores reagiram. "Tu é (sic) vereador no Rio, deveria estar trabalhando aqui", anotou, por exemplo, Bruno Sousa. Foi ecoado por Leonardo C. de Melo: "Presidente tem uma equipe e um vice-presidente para representá-lo na ausência. Não estou entendendo esse governo. O cara agora é príncipe?" Rafael Bessa ironizou: "…O Carluxo virou o primeiro vereador federal da história."

Num segundo post, Carlos Bolsonaro fez pose de articulador político e exercitou seu esporte predileto: tiro à imprensa. "É bacana dar e ouvir opiniões como sempre faço há uns 18 anos de trabalho. Hoje falamos sobre Nova Previdência e outros assuntos que parte da imprensa vai ter que continuar inventando para fingir que tem notícia e idiota ter que repetir jargões para aparecer. Segue o trabalho!"

A caixa de comentários do Twitter continuou fervilhando. O internauta Richardson Vieira bateu: "Caro vereador, gostaria que você visitasse a zona oeste, bairro Santa Cruz, que está precisando urgentemente de saneamento básico. Gostaria que o senhor deixasse esses temas para as pessoas competentes, já que você é vereador e deveria se ocupar apenas com a cidade do Rio de Janeiro."

Num terceiro post, Carlos Bolsonaro como que acusou o golpe. Exibiu-se numa fotografia ao lado do deputado federal Helio Lopes (PSL-RJ), um velho amigo dos Bolsonaro, conhecido como Helio Negão. O 'Zero dois' voltou a bater na imprensa. Dessa vez, porém, incluiu o Rio de Janeiro em sua prosa: "…Vim dar um abraço e conversar um pouco sobre RJ com o grande Hélio Negão. Parte da imprensa cumpre seu papel pioneiro: desinformar e mentir 24h ao dia!"

Deputados que tentam se acertar com o governo têm dificuldades para escolher o interlocutor. Não sabem se devem dialogar com o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ou com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz. Na dúvida, alguns conversam com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Súbito, descobre-se que a articulação política do governo federal passa pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.

Em matéria de articulação política, o governo Bolsonaro dá a impressão de que deseja adotar uma lógica doméstica. Tomado pela forma como delega missões, o presidente age como uma dona de casa que guarda sal numa vasilha de açúcar, na qual está escrito café.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.