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Josias de Souza

Bolsonaro recebe partidos que prometia ignorar

Josias de Souza

01/04/2019 19h44

Em política, o problema dos rompimentos definitivos são as conciliações constrangedoras. Sob a ameaça de sofrer novas derrotas no Congresso e premido pela urgência de retirar a reforma da Previdência do caminho do brejo, Jair Bolsonaro se reunirá com dirigentes de partidos com os quais ele jurava que jamais negociaria. Fará por pressão o que não fez por opção.

No retorno de sua viagem a Israel, o capitão receberá os presidentes de legendas e os líderes no Congresso. A lista está repleta de prontuários. Inclui investigados, denunciados e réus. Entre eles os presidentes do MDB, Romero Jucá; do PP, Ciro Nogueira; do PSD, Gilberto Kassab; e do PRB, Marcos Pereira. Isento de investigação, apenas ACM Neto, do DEM.

O esforço esbarra em obstáculos prosaicos. O Planalto precisa incluir na fila o PSDB. Mas o presidente do partido, Geraldo Alckmin, já não apita nada no tucanato. Deseja-se chamar também o PR. Mas nesse caso, quem manda no partido não é o presidente formal, mas o seu dono, o ex-presidiário Valdemar Costa Neto. Quem quiser entender o que se passa deve ficar atento aos detalhes.

O governo já está com a barriga encostada no balcão. Mas ofereceu uma ração de verbas e cargos em porções incompatíveis com a fome dos potenciais aliados. Normalmente, o preço seria fechado no escurinho. Mas Bolsonaro exagerou na cara de nojo e na pose de representante da "nova política". Como castigo, foi arrastado para a vitrine. Na lógica do pacto demoníaco que rege as coalizões, ao receber a fina flor do fisiologismo o capitão ficará com a marca do Zorro na testa.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.