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Josias de Souza

Carluxo insinua que o pai não será 'um boneco de ventríloquo’ dos partidos

Josias de Souza

05/04/2019 04h35

O vereador carioca Carlos Bolsonaro parece mesmo decidido a consolidar a fama de guerrilheiro das redes sociais. Num instante em que Jair Bolsonaro abre diálogo com partidos que prometia desprezar, seu filho 'Zero Dois' foi ao Twitter. Insinuou que a popularidade do presidente inibe o apetite das legendas por cargos, frustrando o "sistema corrupto" que tenta convertê-lo em "mais um boneco de ventríloquo."

O Pitbull, como Bolsonaro se refere ao filho, testou a paciência dos partidos ao reagir a um comentário feito pelo pai, também no Twitter. O presidente postou nesta quinta-feira: "Pela manhã, me reuni com vários presidentes e líderes de partidos. Tudo ocorreu em alto nível. Ao contrário do que propalado por alguns, nada se falou sobre cargos. Executivo e Legislativo unidos, por uma causa que representa o futuro de nossos filhos e netos: a Nova Previdência."

"Se o presidente Bolsonaro não tivesse a população a seu lado este assunto jamais seria tratado como está sendo", reagiu Carluxo, insinuando que, não fosse o suposto prestígio social do pai, seus interlocutores não hesitariam em dar vazão às suas pulsões fisiológicas. "É nítido que a pressão popular faz a 'situação' agir assim", ele acrescentou, grafando "situação" entre aspas. É como se o filho do presidente duvidasse da disposição dos partidos de se converterem ao governismo.

Para arrematar, Carlos Bolsonaro disparou desde sua trincheira virtual: "Por isso o sistema corrupto insiste tanto em desgastá-lo e transformá-lo em mais um boneco de ventríloquo." Faltou dar nome e CPF ao "sistema corrupto". Quem distribuiu planilhas com cargos federais vagos nos Estados para que os partidos indiquem seus apadrinhados foi o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil). Quem falou em cargos na véspera da abertura do gabinete presidencial para os partidos da "velha política" foi o vice-presidente Hamilton Mourão.

Eis o que dissera Mourão na quarta-feira: "A partir do momento que esses partidos estejam concordando com o que o governo pretende fazer, é óbvio que eles vão ter algum tipo de participação, seja em cargos nos Estados, algum ministério ou algo do gênero. Isso é decisão do presidente, né?"

De duas, uma: ou Carluxo não enxerga o que sucede ao redor do pai-presidente ou está assustado com a assombração errada.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.