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Josias de Souza

Boa notícia: Weintraub soou como anti-Weintraub

Josias de Souza

09/04/2019 18h01

A cerimônia de posse do novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, levou às manchetes a melhor notícia do dia. Ao discusar, Weintraub soou como uma espécie de anti-Weintraub, eis a boa nova. Exposto na vitrine da internet como um radical de mostruário, o substituto de Ricardo Vélez prometeu perseguir três objetivos: 1) "Acalmar os ânimos"; 2) "Colocar a bola no chão"; 3) Respeitar "diferentes opiniões".

Objetivo é acalmar os ânimos, diz novo ministro da Educação

UOL Notícias

Quem descobriu na véspera que o ministro é um súdito de Olavo de Carvalho, tem ojeriza ao "marxismo cultural" e enxerga a assombração comunista "no topo" das instituições financeiras, dos grupos de comunicação e das grandes empresas, teve a impressão de que Weintraub estava completamente fora de si ao discursar no Planalto. Essa é a grande notícia do dia.

No momento, o único excesso que se espera do substituto de Vélez é o excesso de moderação. Em 100 dias, o governo Bolsonaro provou duas coisas na pasta da Educação. A primeira é que o inferno existe. A segunda é que ele não funciona.

Economista, Abraham Weintraub não tem experiência em gestão educacional. Mas pode guiar sua passagem pela Esplanada por uma máxima do liberal Mario Henrique Simonsen: "Em teoria econômica, o que não é óbvio quase sempre é besteira." O raciocínio encaixa-se perfeitamente à área da Educação.

Resta torcer para que Weintraub não faça como o antecessor. Vélez esbarrou várias vezes no óbvio. Passou adiante sem suspeitar que o óbvio era o óbvio. No momento, o óbvio estende a mão para o novo ministro: "Olá, Weintraub. A pronúncia está correta?" Espera-se que o ministro continue fora de si, respondendo com calma, respeito e compostura. Exatamente como discursou no Planalto.

— Atualização feita às 18h37 desta terça-feira (9): Na cerimônia de transmissão de cargo, no Ministério da Educação, Abraham Weintraub voltou a discursar. Disse que vai "pacificar o MEC". E avisou que a paz inclui a saída de "quem não estiver satisfeito."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.