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Josias de Souza

Bolsonaro reitera plano sobre embaixada em Israel

Josias de Souza

11/04/2019 20h21

Jair Bolsonaro participou nesta quinta-feira de um encontro do Conselho de Ministros Evangélicos, no Rio de Janeiro. Ao discursar, reiterou o seu plano de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Fez isso menos de 24 horas depois de ter jantado com embaixadores árabes, em Brasília, para superar o mal-estar gerado por sua aproximação com o premiê israelense Benjamin Netanyahu.

"Quem decide onde é a capital ou não de Israel é o seu povo, seu governo, seus parlamentares", disse Bolsonaro." Assumimos aquele compromisso e, obviamente, nós queremos cumprir esse compromisso. Mas, como um bom casamento, tem que namorar, ficar noivo e, no meu caso, ver se a noiva realmente me merece. E partir para o casamento."

Com mais essa manifestação, o presidente aniquila os esforços da ministra Tereza Cristina (Agricultura) para serenar os ânimos dos parceiros comerciais do Brasil no mundo árabe e muçulmano. Foi Tereza quem levou Bolsonaro para o jantar com os embaixadores dos países que flertam com a ideia de cancelar encomendas no Brasil, sobretudo de produtos do agronegócio.

Bolsonaro relatou aos envangélicos o encontro que tivera na véspera. Declarou a certa altura: "São países que mantêm negócios bilionários conosco. Pedi que esse nosso relacionamento seja fortalecido e se transforme em paz, harmonia e amor. Fomos aplaudidos." Disse ter conversado com os embaixadores. Conversas rápidas, já que não dispunha de um intérprete. Entre risos, acrescentou: "Não sou psicólogo, mas senti que existe, sim, um carinho muito grande de todos no mundo pelo Brasil".

A fala do presidente surpreendeu até auxiliares próximos. Imaginou-se que, após associar-se aos esforços da ministra da Agricultura, ele manteria no freezer o debate sobre a transferência da embaixada em Israel. A encrenca já havia sido momentaneamente contornada quando, em visita ao país, Bolsonaro adotara uma saída intermediária, anunciando a abertura de um escritório comercial em Jerusalém.

Em linha com Tereza Cristina, o pedaço militar do governo também havia aconselhado Bolsonaro a anestesiar o debate sobre a transferência da embaixada, retirando-o das manchetes. Mas o capitão é indomável.

Num trecho do seu discurso, Bolsonaro referiu-se à reviravolta protagonizada pelo Itamaraty no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Distanciando-se de uma aliança com a Palestina, o Brasil passou a votar contra resoluções que condenavam Israel. Recusou-se também a apoiar um texto que criticava a ampliação dos assentamentos israelenses que a ONU considera ilegais. Votou contra resolução que condenava violações praticadas por Israel nas Colinas de Golã.

Bolsonaro foi especialmente ofensivo, pois associou as posições da Autoridade Palestina à mentira. Evocando seu versículo bíblico predileto ("Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"), o presidente afirmou: "Não fugimos a tradição nenhuma. Passamos a votar, lá na ONU, nas questões dos direitos humanos, de acordo com João 8:32. De acordo com a verdade, passamos a votar junto com Estados Unidos e Israel."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.