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Josias de Souza

Vice-líder do PR: Governo acha que a gente não presta, mas quer nosso voto

Josias de Souza

17/04/2019 04h07

O deputado amazonense Marcelo Ramos é vice-líder do PR, o Partido da República. Coordena a bancada da legenda na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Em conversa com o blog, disse que "a reforma da Previdência deve ser aprovada, com ajustes, porque a maioria dos deputados tem responsabilidade com o Brasil, não por causa do governo, que não tem voto nem para aprovar moção de aplauso."

Marcelo Ramos explicou por que Jair Bolsonaro não consegue costurar uma aliança capaz de prover estabilidade legislativa ao Planalto: "O governo acha que a gente não presta, mas quer o nosso voto. O problema é que é difícil servir a um governo que acha que parlamentar não presta."

O deputado diz que não pleiteia cargos, mas "consideração e respeito." Conta que, um dia depois da posse, em fevereiro, pediu audiência ao ministro Sergio Moro (Justiça). Jamais recebeu resposta. Solicitou um encontro com o secretário nacional do Esporte, general Marco Aurélio Vieira. E nada. "Ele não é nem ministro, mas nunca respondeu."

Vão abaixo os comentários mais relevantes feitos pelo vice-líder do PR:

— Empáfia do PSL, partido de Jair Bolsonaro: "Numa reunião dos coordenadores de bancada na CCJ, um deles disse que, se não tivesse acordo, iriam atropelar. Eu levantei a mão e perguntei: 'Vão atropelar com que votos? Ninguém atropela sem voto. Se estão contando com os nossos votos, esqueçam. Não vão atropelar, serão atropelados.' E foram. A pauta da CCJ foi invertida, privilegiando a votação do orçamento impositivo."

— Derrota evitável: "A inversão de pauta, com a votação do orçamento impositivo antes da Previdência, poderia ter acontecido sem trauma. Poderíamos ter feito tudo por acordo. Mas preferiram resistir. E perderam. Aconrteceu exatamente o que dissemos que aconteceria. A pauta foi invertida e iniciamos a discussão do orçamento impositivo. Ao perceber que seriam derrotados, passaram pelo constrangimento de votar a favor da inversão de pauta."

Debilidade das lideranças governistas: "O partido do presidente não parece inteiramente convencido do acerto da reforma. Além disso, o governo tem um líder bem intencionado, o Vitor Hugo, mas sem autoridade política. E tem outra líder, a Joice [Hasselmann]. Cada vez que ela fala arruma uns dez votos contra."

— Planalto sem apoio: "A reforma da Previdência deve ser aprovada, com ajustes, porque a maioria dos deputados tem responsabilidade com o Brasil, não por causa do governo, que não tem voto nem para aprovar moção de aplauso. A maioria das pessoas vai ceder e votar a favor da reforma da Previdência pelo Brasil, não pelo governo."

— Papel de Rodrigo Maia: "Nesta terça-feira, houve uma reunião do presidente Rodrigo Maia com os líderes. Soube que ele fez um apelo em favor da negociação. Espera-se que o relator da proposta faça alguns ajustes no texto. Tem um esforço para votar a Previdência nesta quarta-feira. Deputados que discursariam a favor retiraram as inscrições, para ganhar tempo. Creio que isso ocorre em função do apelo do presidente Rodrigo Maia. É a única pessoa que tem algum comando aqui."

— Relação com o governo Bolsonaro: "Infelizmente, desvios de conduta do passado transformaram em condenável uma prática que é republicana. Em qualquer democracia do mundo, quem apoia no Parlamento governa junto. O governo acha que a gente não presta, mas quer o nosso voto. O problema é que é difícil servir a um governo que acha que parlamentar não presta. Eles acham que a gente não presta nem para governar nem para dar opinião sobre o que deve ser feito no nosso Estado. Somos desprezados e querem que a gente tenha a obrigação de votar com o governo na Câmara. Isso não existe."

— Exigências para apoiar o governo: "Não quero cargo nenhum. Não desejo nenhuma emenda [orçamentária] fora do que é o meu direito. Mas, como um deputado que vota nas pautas do governo, quero ter interlocução privilegiada com os ministros. Quero conversar com o ministro da Infraestrutura, para garantir que ele faça investimentos no meu Estado. Quero falar com o ministro da Saúde, para obter ajuda que me permita enfrentar o vírus H1N1 no Amazonas. Isso é republicano."

— Falta de interlocução: "Ninguém tem acesso aos ministros. Um dia depois da posse, eu pedi uma audiência com o ministro Sergio Moro, para conversar sobre algumas opiniões que tenho sobre o pacote anticrime. Até hoje, não recebi resposta. Pedi audiência com o secretário nacional de Esporte [general Marco Aurélio Vieira]. Ele não é nem ministro, mas nunca respondeu."

— Paulo Guedes é exceção: "Preciso registrar, por uma questão de lealdade, que o Ministério da Economia tem procurado uma interlocução conosco. A despeito de ter uma visão hostil em relação ao nosso modelo de desenvolvimento no Amazonas, o ministro Paulo Guedes orientou a equipe dele. Eles têm me chamado para conversar sobre tudo o que tem impacto na Zona Franca. Creio que isso acontece porque, numa reunião da bancada com o ministro Paulo Guedes, eu fui muito duro com ele. Às vezes, o jeito de ganhar respeito é ser duro. Mas a gente valoriza a consideração do ministro. Não significa que farão o que eu quero. O que vale é a atitude fraterna, o respeito."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.