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Josias de Souza

Na reforma da Previdência, governo receita remédio amargo e esconde a bula

Josias de Souza

21/04/2019 06h55

Sob Jair Bolsonaro, o governo fez uma opção preferencial pelo hábito de impor limites ao lamentável hábito dos repórteres de desejar informação. A Folha pediu acesso aos estudos e pareceres técnicos que fundamentaram a proposta de reforma da Previdência. E o Ministério da Economia negou-se a exibir os documentos. Alegou que "foram classificados com nível de acesso restrito." Por quê? "Por se tratarem de documentos preparatórios."

Além dos repórteres, também os congressistas se queixam do déficit de transparência do governo. Isso é uma evidência de que há males que vêm para pior. Em janeiro, primeiro mês do novo governo, o Planalto editou um decreto para restringir o alcance da Lei de Acesso à Informação. O Congresso derrubou a medida. Agora, mesmo com a lei em pleno vigor, o governo transforma transparência em ameaça.

A coisa é tão esdrúxula que convém repetir: o governo enviou ao Congresso uma proposta de emenda constitucional que mexe na aposentadoria de meio mundo. E trata como sigiloso o papelório que expõe os critérios adotados para impor os sacrifícios. Mal comparando, é como obrigar o doente a tomar um remédio amargo às cegas, proibindo-o de ler na bula a lista de efeitos colaterais. Um acinte.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.