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Josias de Souza

Bolsonaro atirou contra a reforma, avalia a equipe

Josias de Souza

26/04/2019 02h19

Em café com jornalistas, Bolsonaro fez afirmações sobre Previdência que desagradaram a equipe econômica

Integrantes da equipe econômica reagiram muito mal ao saber que Jair Bolsonaro sinalizara para jornalistas que o governo se daria por satisfeito com uma reforma previdenciária que resultasse num alívio fiscal de R$ 800 bilhões em dez anos. Na descrição de um dos auxiliares do ministro Paulo Guedes (Economia), a reação dos técnicos oscilou entre a decepção e a irritação. "O presidente atirou contra a reforma", resumiu um deles. "Sentimos esse tiro como se ele tivesse perfurado o nosso próprio pé."

Avaliou-se na pasta da Economia que Bolsonaro perdeu uma extraordinária oportunidade de perder uma oportunidade. Ao mover os lábios para falar sobre Previdência num café da manhã com jornalistas, o presidente acabou oferecendo aos congressistas o pretexto para ignorar a pretensão do governo de trabalhar para obter a aprovação da reforma sem emendas, com um refresco fiscal de R$ 1,237 trilhão.

Pior: o presidente rebaixou até mesmo o piso de R$ 1 trilhão, que Paulo Guedes vinha trombeteando como ecomomia mínima a ser obtida com a reforma. O receio dos técnicos é que os parlamentares passem a trabalhar com uma cifra ainda menor. Ouviu-se na pasta da Economia uma analogia pitoresca. "Isso funciona com a lógica da venda de um automóvel. Se eu acho que o carro vale R$ 1 trilhão, mas sei que o vendedor aceita receber R$ 800 bilhões, vou oferecer R$ 600 bilhões. Ou menos. É assim que os deputados e senadores vão raciocinar."

Pessimista, parte da equipe técnica teme que Bolsonaro tenha sepultado a possibilidade de o governo arrancar do Congresso uma reforma de fôlego. Estima-se, de resto, que o presidente pode ter jogado terra em cima do plano de estruturar uma transição para o sistema de capitalização na Previdência.

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UOL Notícias

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.