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Josias de Souza

Para Heleno, noticiário virou uma ‘coluna social’

Josias de Souza

26/04/2019 05h17

Presente à nova rodada de café da manhã que Jair Bolsonaro mandou servir a um grupo de jornalistas, o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, impacientou-se. Interveio a certa altura para sugerir que os convidados abandonem a "obsessão" pelo barraco armado por Carlos Bolsonaro contra o vice-presidente Hamilton Mourão. Acha que o noticiário virou uma espécie de "coluna social" hipertrofiada.

"Parem", exortou Heleno, observado pelo amigo Mourão, que estava sentado à direita de Bolsonaro. Ele chamou de "coisinha" a pancadaria virtual de Carlucho contra o vice-presidente. Afirmou que, ao "encher coluna social", o reportariado "apequena o país". Declarou também que a mídia dá "muito espaço para coisas que não são importantes."

O general Heleno não se deu conta. Mas os radares que fazem dele um dos mais refinados observadores da cena palaciana estão com defeito. Sem a orientação habitual, ele comete o erro trivial de achar que a imprensa é a crise. Os repórteres podem se alimentar da crise. Mas não se confundem com ela.

Chama-se Jair Bolsonaro o dono da crise que inquieta o general Heleno e "apequena o país". No instante em que o capitão tiver suficiente autoridade para desligar o 'Zero Dois' da tomada, o curto-circuito se extinguirá. E a "coluna social" mudará de assunto instantaneamente.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.