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Josias de Souza

Bolsonaro se mete no BB e se omite no Turismo

Josias de Souza

29/04/2019 17h21

O problema do governo é que Jair Bolsonaro se mete onde não deveria —estatais e bancos públicos— e se omite em áreas que pedem intervenção urgente —o Ministério do Turismo, por exemplo. Com isso, o capitão consegue deixar perplexos os operadores da Bolsa de Valores e irritados os eleitores.

Nesta segunda-feira, Bolsonaro derrubou as ações do Banco do Brasil ao insinuar em público que o presidente da casa bancária estatal, Rubem Novaes, deveria reduzir os juros dos empréstimos ao setor agropecuário. Mas fez cara de paisagem ante a queda da cotação do ministro Marcelo Álvaro Antônio na Polícia Federal.

"Faço um apelo para o seu coração e seu patriotismo para que esse juros, tendo em vista que você é cristão, para que esse juros caiam um pouco mais", disse Bolsonaro ao presidente do BB. O orador demonstra certa dificuldade de aprender com os próprios erros.

Imaginou-se que a tentativa atabalhoada de controlar os preços do diesel na Petrobras a golpes de gogó houvesse ensinado a Bolsonaro o básico: o órgão a ser governado nas empresas —estatais ou privadas— é a cabeça. Não se melhora um balanço com o coração.

Na pasta do setor turístico, o ministro reagiu ao avanço das investigações da Polícia Federal com conversa mole: "O que vem me atingindo há cerca de 3 meses é resultado de uma disputa política local, cujos interesses são prejudicados com minha presença no Ministério do Turismo", escreveu Álvaro Antônio.

Supondo-se que o ministro seja a pessoa honesta que diz ser, deveria fazer sua defesa longe da máquina pública, não por meio de notas oficiais do ministério. Governante que demora a perceber algo assim, tão trivial, estimula o eleitor a acreditar que a República já não precisa de um presidente, mas de um médico-legista.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.