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Josias de Souza

Caos venezuelano constrange atores no Brasil

Josias de Souza

30/04/2019 19h39

A crise na Venezuela evolui perigosamente de um estágio inacreditável para uma fase insuportável. À medida que a temperatura sobe, aumenta o constrangimento de certos personagens no Brasil. O petismo faz silêncio, mas deveria explicar sua amizade com Nicolás Maduro. O governo Bolsonaro faz barulho, mas esquiva-se de justificar o fato de ter empurrado o Brasil para a incômoda posição de gigante regional que abdicou de sua relevância para se tornar uma insignificância diplomática a reboque dos Estados Unidos.

No caso do PT, o mais constrangedor é a ausência de um pedido de desculpas. Durante mais de uma década, sob Lula e Dilma Rousseff, o poder federal no Brasil bateu palmas para as maluquices de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, os autocratas de Caracas. Fez pior: levou a Odebrecht para a Venezuela com dinheiro do BNDES. A diplomacia de empreitada resultou num calote companheiro que acabou no bolso do contribuinte brasileiro.

Quanto ao governo de Bolsonaro, o mais incômodo não é a estridência do presidente, mas a ineficiência de suas posições contra Maduro. O alinhamento automático de Brasília com Washington deslocou o eixo gravitacional das articulações para a mesa de Donald Trump, que cultiva a hipótese da intervenção militar como uma opção de gogó. Por sorte, o governo Bolsonaro distanciou-se dessa aventura.

As coisas na Venezuela ficaram claras como água de bica: Nicolás Maduro é um ditador. Juan Guaidó encarna a democracia. No meio dos dois há uma ecomomia em ruínas, uma população que passa fome e uma cúpula militar corrupta que retarda o desfecho da crise concedendo uma sobrevida ao ditador e reprimindo a sublevação pró-oposição. E o Brasil, diante desse cenário que ferve na sua fronteira, se autoconverteu num espectador perplexo.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.