Sobrevida de Maduro deixou Juan Guaidó zonzo
A entrevista da repórter Sylvia Colombo com Juan Guaidó é esclarecedora e alarmante. Esclarece porque expõe o beco sem saída em que se encontra o entrevistado. Alarma porque, sendo Guaidó a única porta visível para uma saída negociada da ditadura, seu desnorteio mantém sobre a mesa as opções sanguinárias: da guerra civil à intervenção militar externa.
Guaidó reconhece o óbvio: "Há um elemento fundamental nesses processos de sair de uma ditadura para a democracia que é a adesão das Forças Armadas." Ficou entendido que blefou ao dizer na terça-feira que obtivera apoio expressivo dos militares. "Há insatisfação nas Forças Armadas? Sim, é óbvio. É o suficiente? Não."
A falta de rumo fica evidente em comentários como esse: "A ideia é ir somando cada vez mais gente a esse processo, nem que tome tempo." Ou esse: "Sim, um cidadão pode se cansar por um tempo, mas seu descontentamento com a situação seguirá, e ele voltará às ruas… Pode haver altos e baixos nas mobilizações, mas seguiremos sendo maioria."
Guaidó sustenta: "Pela Constituição, eu sou o presidente encarregado da Venezuela." É reconhecido por meia centena de países. Mas o fato é que não conseguiu se encarregar de uma mísera repartição pública.
Sobre o recrudescimento da repressão, Guaidó declara: "Esse tipo de atuação repressiva é a única coisa que o regime tem hoje. Eles tentam demonstrar um controle que não têm. Por isso reprimem…" Ora, Maduro só reprime porque comprou o apoio que interesse a um ditador —o apoio da força armada.
A conjuntura venezuelana migra perigosamente da fervura das manifestações pacíficas para o banho-maria de uma repressão ainda mais sanguinolenta. Confirmando-se o pior cenário, Guaidó pode virar um asterisco. Não é sem motivo que Maduro deixa solto o autoproclamado presidente enquanto se equipa para devolver à cadeia o mentor de Guaidó: Leopoldo López, refugiado na embaixada da Espanha em Caracas.
Mandachuva do partido Vontade Popular, Lópes é mais incisivo e carismático do que seu pupilo. No momento, o melhor que poderia acontecer para Maduro seria uma disputa entre criador e criatura pela liderança de uma oposição já bem fragmentada.
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