Clã Bolsonaro prejudica mais Coaf do que centrão
A família Bolsonaro mantém com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf, um relacionamento contraditório. O governo de Jair Bolsonaro enaltece o órgão que monitora a movimentação bancária suspeita no país. E diz estar empenhado em prestigiá-lo. Simultaneamente, o senador Flávio Bolsonaro desqualifica o Coaf, insinuando que a repartição quebrou ilegalmente o seu sigilo bancário em relatórios enviados ao Ministério Público do Rio de Janeiro.
Numa ponta, Jair Bolsonaro ergue hipotéticas barricadas contra o esforço dos partidos do centrão para retirar o Coaf das mãos do ministro Sergio Moro (Justiça), devolvendo-o à área econômica. Na outra ponta, o filho 'Zero Um' do presidente declara que o pedido do Ministério Público para quebrar o seu sigilo bancário no caso Queiroz é mero jogo de cena para encobrir a abertura ilegal dos dados. Algo que o Ministério Público já informou que não ocorreu.
"Eles querem requentar uma informação que conseguiram de forma ilegal, inconstitucional", disse Flávio ao Estadão."Como viram a cagada que fizeram, agora querem requentar, dar um verniz de legalidade naquilo que já está contaminado e não tem mais jeito. Vejo que há grande intenção de alguns do Ministério Público de me sacanear."
Ninguém "sacaneia" mais Flávio Bolsonaro do que ele próprio. Negou-se sistematicamente a prestar esclarecimentos ao Ministério Público. Em entrevistas, responde às inconsistências financeiras que o assediam com alegações que têm a consistência de um pote de gelatina.
Sobre a movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão farejada na conta do ex-faz-tudo Fabrício Queiroz, o Zero Um inovou. Quando o escândalo explodiu, dissera ter ouvido explicações plausíveis do ex-assessor. Abstivera-se, porém, de revelá-las. Agora, declara coisas assim: "Talvez meu erro tenha sido esse: confiar demais nele, sem dúvida."
Um político que, em meio a uma investigação cabeluda, depois de conviver por mais de uma década com os esquemas gerenciados pelo então assessor, limita-se a fazer uma pose de vítima é um personagem cínico ou irresponsável. Ou as duas coisas. Quando o cinismo e a irresponsabilidade resultam em ataques ao Coaf, transformam-se num fator de desmoralização do governo do pai.
Perto do barulho que o clã Bolsonaro fabrica para tentar abafar os ruídos do escândalo, a articulação do centrão contra os interesses do Planalto virou coisa de gente amadora. O problema é que vai ficando cada vez mais claro que, em matéria de Coaf, os Bolsonaro batem bumbo sob um imenso telhado de vidro.
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