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Josias de Souza

Governo não precisa de pacto, mas de eficiência

Josias de Souza

29/05/2019 00h02

A palavra pacto voltou ao noticiário. Sempre que isso ocorre é sinal de que Brasília está zonza e o Brasil está perdido. O vocábulo ressurgiu num café da manhã que reuniu os presidentes dos três Poderes. Ao final, o ministro Onyx Lorenzoni, que testemunhou a cena, anunciou para o início de junho a chegada do "pacto de entendimento e metas" para retirar o país do atoleiro.

A última vez que Jair Bolsonaro falou em pacto foi no dia da posse. Ao discursar no Congresso Nacional, o novíssimo presidente propôs um "pacto nacional entre a sociedade e os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, na busca de novos caminhos para o Brasil". Ele reafirmou seu "compromisso de construir uma sociedade sem discriminação ou divisão".

O apreço de Bolsonaro pelo pacto durou a distância que separa o prédio do Congresso da sede do governo. Minutos depois, em novo discurso, dessa vez no Parlatório do Planalto, o capitão anunciou, em timbre belicoso: "O Brasil começa a se libertar do socialismo e do politicamente correto." Estava declarada a temporada do eles contra nós, o lema que substituiu o nós contra eles do petismo.

Decorridos cinco meses, verificou-se o seguinte: no abismo que existe entre a retórica guerreira do discuso do Parlatório do Planalto e a lorota pacificadora do plenário do Congresso, surgiu um governo que tem dificuldades para encontrar o seu rumo. Esse tipo de problema não se resolve com pacto. Demanda trabalho, eficiência e respeito à Constituição, o único pacto que vale a pena seguir. Fora disso, qualquer ideia de pacto não resiste a meia dúzia de tuítes do presidente.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.