Saída de Levy revela a falta de rumo do BNDES
Muito já se falou sobre o método —ou a ausência de método— que marcou a carbonização de Joaquim Levy. O impensável tornou-se inacreditável depois que se descobriu que o próprio ministro Paulo Guedes (Economia) empurrava o presidente do BNDES para a fogueira. Mas o episódio revela que, sob Jair Bolsonaro, há males que vêm para pior. Verificou-se no sexto mês de governo que falta um rumo ao velho e bom BNDES.
Nos governo de Lula e Dilma Rousseff, o bancão oficial engordou, tornando-se um bancãozão balofo. Especializou-se em conceder empréstimos a empresas e ditaduras companheiras. Produziu escândalos como o da JBS e calotes como os de Cuba e Venezuela —juntos, esses dois países deram um beiço de mais de R$ 4 bilhões. Esperava-se que a gestão de Bolsonaro submetesse o BNDES a uma dieta rápida e radical. Mas Levy foi incinerado na gordura que demorava a eliminar.
A receita para o emagrecimento do BNDES é conhecida. O banco precisa devolver o dinheiro que tomou emprestado do Tesouro Nacional. Coisa de R$ 126 bilhões, dos quais retornaram R$ 30 bilhões no mês passado. Precisa também vender as ações de empresas privadas que abarrotam a sua carteira. Algo ao redor de R$ 120 bilhões. De resto, já deveria ter colocado em pé um plano de demissão voluntária.
Além de trocar massa gorda por músculos, o BNDES terá de redefinir o seu cardápio de atribuições. Em vez de bancar hipotéticos campeões nacionais, privilegiaria pequenas e médias empresas. Em vez de exportar capital, investiria em prioridades nacionais —projetos no setor de infraestrutura, por exemplo. Em vez de acumular ações de negócios privados, atuaria para potencializar as privatizações.
Diante de um BNDES por ser refeito, Bolsonaro explodiu com Levy por conta de ideologia. O que acendeu o pavio do presidente foi a nomeação de Marcos Barbosa Pinto, que servira ao governo Lula, para o cargo de diretor de Mercado de Capitais. Além de tosco, o veto revelou-se extemporâneo. Foi como se o capitão, depois de engolir um elefante como o próprio Levy —ex-secretário do Tesouro sob Lula e ex-ministro da Fazenda sob Dilma Rousseff— engasgasse com um mosquito.
No BNDES, como em tantas outras áreas, o governo deveria cuidar dos minutos, porque as horas passam. Mas Bolsonaro demora a aprender o básico: quem escolhe o momento exato economiza muito tempo.
Se não tolerava ex-auxiliares de gestões petistas, Bolsonaro não poderia ter cedido à pressão de Paulo Guedes para nomear Levy. Se já estava "por aqui" com o personagem, deveria ter organizado a substituição. Ao tostar Levy sem definir previamente o nome do substituto, o capitão apenas exercitou com a máxima competência sua incompetência para lidar com os recursos humanos do seu governo. Se trocar o motorista do BNDES sem definir claramente o itinerário, estará contratando uma nova trombada.
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