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Josias de Souza

Moro tenta deter ‘vivandeiras da nulidade’ no STF

Josias de Souza

19/06/2019 23h18

Sergio Moro viveu momentos constrangedores na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Habituado a operar no ataque, o ex-juiz teve de se defender. Famoso por seus interrogatórios, viveu a experiência de um interrogado. Para complicar, havia entre seus inquisidores senadores culpados e cúmplices. Gente que merece o banco dos réus, não um assento no Senado.

Moro chegou a essa situação graças à divulgação das mensagens que revelaram a atmosfera de colaboração que havia entre ele e o coordenador da força-tarefa de Curitiba, Deltan Dallagnol. Com a imparcialidade de juiz colocada em dúvida, Moro aproveitou a passagem pelo Senado para consolidar a vacina com a qual planeja imunizar-se contra a radioatividade das mensagens.

De tudo o que foi divulgado, o ministro da Justiça disse reconhecer "algumas coisas". Mas alega que certas coisas lhe causam "estranheza". E sustenta que as mensagens podem ser "total ou parcialmente adulteradas". Agarrado a esses mantras, Moro joga sua comunicação com o procurador num limbo marcado pela imprecisão. E sustenta não ter feito nada de errado.

Assim, Moro espera facilitar a sua rotina, tornando automática a explicação a ser dada cada vez que for acionado o conta-gotas das mensagens que ainda estão por vazar. Espera também dificultar das "vivandeiras da nulidade", como se referiu às pessoas que tentam anular sentenças da Lava Jato. Nesse ponto, a estratégia de Moro será testada na semana que vem, quando a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal se reúne para julgar o recurso em que a defesa de Lula pede a anulação da condenação no caso do tríplex.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.