Cocaína dá ao GSI ares de Casa da Mãe Joana
O general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, tratou como uma trapaça da sorte o caso do sargento brasileiro pilhado na Espanha com uma mala de cocaína ao desembarcar de um jato da Força Aérea Brasileira —aeronave precursora da viagem de Jair Bolsonaro à reunião do G20, no Japão.
"Podia não ter acontecido, né? Foi uma falta de sorte acontecer exatamente na hora de um evento mundial", declarou o general. "Acaba tendo uma repercussão mundial que poderia não ter tido. Foi um fato muito desagradável para todo mundo." De fato, é desagradabilíssimo. E a reação revela que há males que vêm para pior.
O militar que levava 39 quilos de cocaína na bagagem já rondava as viagens presidenciais desde Dilma Rousseff e Michel Temer. Imagine o que diriam o general e a entourage de Bolsonaro se a droga tivesse embarcado num voo preparatório para um deslocamento da ex-presidente petista.
"A revista de passageiros e de malas para os aviões da FAB é encargo da FAB, que não é subordinada a mim", tentou eximir-se o general. "O GSI não tem nada que ver com isso, zero!" O major Daniel Oliveira, porta-voz da FAB disse coisa ligeiramente diferente.
Segundo o major, cabe ao GSI, responsável pela segurança do presidente da República, inspecionar as bagagens. Entretanto, como se tratava de uma aeronave de reserva, caberia à própria Força Aérea verificar as malas. Abriu-se um desses rigorosos inquéritos. Investiga-se, veja você, se as malas da tripulação foram ou não vistoriadas.
A suspeita de que um oficial entrou num avião em missão presidencial sem que sua bagagem fosse revistada não tem nada a ver com falta de sorte. A cocaína revela outro tipo de urucubaca. O gabinete que deveria manter o presidente da República longe de ameaças e criminosos ganhou uma incômoda aparência de Casa da Mãe Joana.
Sob Dilma, Temer ou qualquer outro presidente, a incompetência seria um absurdo. Sob Bolsonaro, que carrega na biografia as dores de uma facada no abdômen, o descompromisso com as regras mais comezinhas de segurança oscila entre o inaceitável e o inacreditável. Em matéria de segurança, quem trabalha duro costuma ter mais sorte.
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