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Josias de Souza

Bolsonaro ‘fatura’ manifestações sem citar Moro

Josias de Souza

01/07/2019 00h04

Ao comentar as manifestações deste domingo nas redes sociais, Jair Bolsonaro ignorou Sergio Moro. Sem citar o ministro da Justiça, o presidente tirou proveito político dos atos em dois tuítes. Num, enalteceu "a população brasileira" pela "civilidade" e por se incluir "cada vez mais nas decisões do nosso Brasil."

Noutro tuíte, Bolsonaro assumiu o papel de tradutor da voz das ruas. Citando o asfalto entre aspas, concluiu que uma das mensagens dirigidas "a todas as autoridades" foi a de que precisam apoiar o presidente da República: "…Apoiem quem foi legitimamente eleito em 2018", escreveu, abstendo-se de recordar que os congressistas também saíram das urnas.

Sergio Moro foi o grande protagonista do domingo. Fustigado pela divulgação em conta-gotas de mensagens que trocou com procuradores da Lava Jato, o ex-juiz também foi às redes sociais. Criou um bordão: "Eu vejo, eu ouço."

O ex-juiz defendeu-se da acusação de parcialidade. "Sempre agi com correção como juiz e agora como ministro." Criticou "hackers", "criminosos" e "editores maliciosos". E fez questão de bater continência para o capitão: "Sou grato ao presidente Jair Bolsonaro…"

Ao omitir o nome de Moro em seus posts, Bolsonaro acendeu as fornalhas do único empreendimento que cresce em Brasília: a indústria da maledicência. Personagens que já viram elefante voar enxergaram no silêncio do capitão a preocupação de não inflar o ego de um potencial participante da corrida presidencial de 2022.

Avalia-se que o Supremo Tribunal Federal pode pavimentar prematuramente a trilha que leva Moro à candidatura de 2022 se a Segunda Turma da Corte concluir que o ex-juiz agiu com parcialidade no julgamento do caso do tríplex, que resultou na prisão de Lula.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.