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Josias de Souza

Datafolha: brasileiro rebaixa Moro sem elevar Lula

Josias de Souza

07/07/2019 02h32

Embora nem sempre seja visto por autoridades e políticos como um observador esperto, o brasileiro emite sinais de que enxerga todas as espertezas ao redor. Pesquisa Datafolha revela que, no caso da comunicação do então juiz Sergio Moro com os procuradores da Lava Jato, a plateia não está disposta a comprar gato por lebre. Nem isentou Sergio Moro de culpa nem transformou Lula em inocente.

É alta a taxa dos entrevistados que tiveram conhecimento das mensagens que pingam em ritmo de conta-gotas sobre a reputação do agora ministro da Justiça: 63%. Nesse universo, 58% avaliaram como inadequada a parceria que Moro estabeleceu com procuradores na época em que era juiz da Lava Jato. Entretanto, 54% responderam que, a despeito da exposição das mensagens tóxicas, continuam achando justa a condenação que resultou na prisão de Lula no caso do tríplex.

Quer dizer: a maioria da opinião pública não leva a sério o trololó de Moro segundo o qual não há nada de errado no bate-papo que travou no escurinho do Telegram com procuradores de Curitiba, sobretudo Deltan Dallagnol. A maioria tampouco engole a conversa mole de que Lula é mesmo um perseguido e tudo o que está na cara não passa de uma conspiração da lei das probabilidades contra um inocente.

O índice de aprovação pessoal de Moro, que era de 59% em abril, caiu para 52%. Mas 55% disseram não vislumbrar por ora motivos para que o ex-juiz deixe o posto de ministro da Justiça. Ficou entendido que os admiradores de Moro não se converteram em cães raivosos, capazes de atacá-lo. Mas uma parte do grupo já não abana o rabo.

Para 59%, se forem comprovadas irregularidades nas decisões de Sergio Moro como juiz, as sentenças devem ser revistas. A taxa de aprovação da Lava Jato, que era de 61% em abril, caiu para 55%. Ou seja: embora abomine a corrupção, o brasileiro não parece conviver bem com a ideia de que o Estado possa recorrer ao vale-tudo para prevalecer no combate aos larápios.

Dito de outro modo: ninguém ignora que a principal regra do jogo da oligarquia corrupta é a violação das regras. Mas a maioria acredita que, na perseguição aos criminosos, as regras estabelecidas em lei são sempre menos perigosas do que a criatividade que pulsa no aplicativo de bate-papo.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.