Áudio de Deltan enfraquece tese da ‘adulteração’
O site The Intercept jogou na rede o primeiro áudio do caso das mensagens extraídas dos celulares da turma da Lava Jato. Nele, ouve-se o procurador Deltan Dallagnol classificando de "boa notícia" a decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo, de cassar liminar do colega Ricardo Lewandowski que autorizara uma entrevista de Lula à Folha. A novidade vale mais pela forma do que pelo conteúdo. Vai ficando cada vez mais difícil sustentar a tese da "adulteração" das conversas.
Mensagens divulgadas em acionamentos anteriores do conta-gotas já haviam deixado claro que os procuradores não lidavam bem com a ideia de Lula conceder entrevista. Numa dessas mensagens, a procuradora Laura Tessler, por exemplo, reagira à decisão de Lewandowski assim: "Lá vai o cara (Lula) fazer palanque na cadeia. Um verdadeiro circo. […] E a gente aqui fica só fazendo papel de palhaço com um Supremo desse…". Nesse contexto, a manifestação de Deltan seria mais do mesmo. O que a torna mais relevante é sua forma auditiva.
Procurada, a força-tarefa de Curitiba divulgou uma nota nova com argumentação velha. Escreveu que "as supostas mensagens atribuídas a integrantes da força-tarefa são oriundas de crime cibernético e não puderam ter seu contexto e veracidade verificados." Difícil tratar como "suposta mensagem" uma comunicação que salta aos ouvidos. Complicado questionar a "veracidade" de um dos timbres que mais frequentaram o rádio e a televisão nos últimos cinco anos.
A nota da Lava Jato acrescentou: "Diversas dessas supostas mensagens têm sido usadas, editadas ou descontextualizadas, para embasar falsas acusações que contrastam com a realidade dos fatos". Na era digital, qualquer coisa pode ser editada. Entretanto, Folha e Veja, que tiveram acesso ao material, não encontraram indícios de edição ou descontextualização.
A mensagem que Deltan transmitiu aos colegas está impregnada de "realidade dos fatos". Disse ele: "…O Fux deu uma liminar suspendendo a decisão do Lewandowski que autorizava a entrevista dizendo que vai ter que esperar a decisão do plenário." De resto, é plausível que o chefe da Lava Jato tenha pedido aos interlocutores para "não alardear" a novidade, "porque quanto antes divulgar isso, antes vai ter recurso do outro lado, antes isso aí vai para o plenário."
Condenados a viver uma situação análoga à dos encrencados na Lava Jato, cujas explicações estavam sempre um passo aquém dos vazamentos de detalhes das investigações, o ex-juiz Sergio Moro e os procuradores provavelmente continuarão esgrimindo a tese da manipulação das mensagens. Foi o caminho que encontraram para tentar evitar que alguma comunicação tóxica leve à anulação de sentenças.
Tomada individualmente, a fala de Deltan sobre a entrevista de Lula não fornece matéria-prima para os magistrados que desejam dar uma paulada na Lava Jato. O problema é que há outros áudios por divulgar. Informa-se que há na fila também vídeos. Ainda que sejam inofensivos, podem ser usados para atribuir credibilidade às mensagens nas quais Moro e Deltan trocam figurinhas, combinam ações, consultam-se mutuamente, ultrapassando a fronteira que separa o relacionamento funcional entre juiz e procurador do comportamento abusivo.
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