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Josias de Souza

Capitão compara excessos da mídia aos da polícia

Josias de Souza

09/08/2019 19h34

Numa de suas já tradicionais entrevistas na saída do palácio residencial do Alvorada, Jair Boolsonaro declarou nesta sexta-feira: "Se o excesso jornalístico desse cadeia, todos vocês estariam presos agora, tá certo?". Absteve-se de definir "excesso". Mas ficou subentendido que comparava abusos cometidos por jornalistas a execuções praticadas por policiais em serviço.

A analogia ficou clara porque a frase de Bolsonaro foi servida aos repórteres nas pegadas de uma explicação do ministro Sergio Moro (Justiça) sobre o chamado excludente de ilicitude. Trata-se de uma obsessão do capitão, que Moro incluiu no pacote anticrime. Prevê que um juiz poderá deixar de impor uma pena ao policial que mata quanto "o excesso decorrer de escusável medo, surpresa ou violenta emoção".

Foi como se Bolsonaro declarasse, com outras palavras: "A imprensa comete excessos contra mim a todo instante. Nem por isso os jornalistas vão para a cadeia. Por que um policial que age em legítima defesa deveria ser condenado a prisão?"

Num ponto, Bolsonaro tem razão: o batalhão da imprensa também está sujeito a agir sob os efeitos de "escusável medo, surpresa ou violenta emoção". Mas o presidente pode ficar tranquilo, porque há uma diferença sibilina: diante de um teclado, uma câmera ou um microfone, jornalista não atira para matar.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.