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Josias de Souza

Eficiência do Coaf vira um estorvo para Bolsonaro

Josias de Souza

09/08/2019 23h07

Jair Bolsonaro decidiu transferir o Coaf para o Banco Central. Há uma penca de argumentos técnicos para justificar a decisão. Entre eles o de que o providência seria acompanhada de um projeto para assegurar a independência do Banco Central. Há também uma justificativa política. "O que nós pretendemos é tirar o Coaf do jogo político", disse Bolsonaro. Quem não quiser fazer papel de bobo deve desconfiar de todo esse lero-lero.

O excesso de escândalos tornou o Coaf conhecido dos brasileiros. Mesmo quem não sabe o significado da sigla sabe que o órgão serve para farejar movimentações bancárias suspeitas. O Coaf foi vital no desbaratamento de escândalos como o mensalão e o petrolão.

Até outro dia, Bolsonaro pegava em lanças no Congresso para transferir o Coaf da Economia para o Ministério da Justiça. Alegava-se que Sergio Moro aparelharia o órgão, tornando-o ainda mais eficiente. O centrão não deixou. Mas o problema é que, antes mesmo da chegada de Moro, a eficiência do Coaf se manifestou no esquadrinhamento da movimentação bancária de Flávio Bolsonaro, o filho do presidente, e seu faz-tudo Fabrício Queiroz.

Asfixiado por uma investigação que corre no Rio de Janeiro, Flávio recorreu ao Supremo. E obteve do presidente da Corte, Dias Toffoli, liminar que sustou não apenas o seu caso, mas todos os processos fornidos com dados provenientes de órgãos como o Coaf e Receita Federal. Contra um pano de fundo assim, qualquer justificativa oficial será sinônimo de conversa fiada. O que se deseja é travar o Coaf

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.