Moro vai ganhando ares de adversário do chefe
Submetido a uma sequência de dissabores há dois meses, desde que começaram a ganhar as manchetes as mensagens que a Lava Jato guardava no escurinho do Telegram, Sergio Moro terá mais uma contrariedade nas próximas semanas. O ministro esperava que seu pacote anticrime entrasse na pauta da Câmara após a votação da reforma da Previdência. Mas o embrulho continua no freezer. E os deputados decidiram priorizar outra proposta: o projeto de lei sobre abuso de autoridade.
Na versão a ser apreciada pelos deputados, o projeto prevê 30 condutas de autoridades, entre elas juízes e procuradores, que serão enquadradas como crime, punível com pena de prisão. No auge da Lava Jato, parlamentares encrencados tinham receio de tratar desse assunto. Agora, com a força-tarefa de Curitiba na berlinda, culpados e cúmplices vivem uma fase de raro assanhamento.
Em entrevista à Reuters, Sergio Moro tenta virar a página de sua história na magistratura. Em resposta aos que pedem o seu afastamento do ministério, afirma que o caso esmiuçado nas mensagens pertence ao seu "passado." E expõe os planos do presente: a criação de centros integrados de combate a crimes na fronteira do país; um projeto-piloto de combate à violência em cinco cidades; e a aprovação do pacote anticrime, que até Bolsonaro já disse não ser mais prioritário.
Perguntou-se a Moro se será candidato ao Planalto. Ele repetiu que não. Disse que o candidato em 2022 deve ser Bolsonaro. Mas injetou em sua retórica uma inusitada ressalva: "Acho muito prematuro nós falarmos isso". Na prática, Moro vai se tornando uma espécie de adversário cordial do seu chefe. Joga com Bolsonaro um jogo conhecido na política. Procura não parecer o que é, porque o outro pode não ser o que parece ou, ainda mais enganador, pode ser e parecer… Um adversário.
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