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Josias de Souza

Falta a Bolsonaro a sensibilidade de uma criança

Josias de Souza

24/08/2019 01h11

A gente às vezes costuma complicar coisas que são simples. Nada pode ser mais simples do que a lógica do enchimento de balões de festa. Essa mesma lógica se aplica à crise ambiental em que Jair Bolsonaro meteu o Brasil. O segredo está em descobrir o ponto exato que antecede o momento da ruptura dos balões, o instante em que um sopro a mais fará o balão explodir. Bolsonaro vive o seu momento-balão-de-festa-infantil. Faltou na sua assessoria uma criança de 5 anos.

Nos últimos dias, o presidente dedicou-se a soprar o balão. Fez isso ao dizer que o Brasil não precisava do dinheiro que a Alemanha parou de enviar para programas ambientais. Continuou soprando ao ironizar a suspensão do envio das verbas da Noruega para o Fundo Amazônia de preservação da floresta. No início da semana, Bolsonaro voltou a soprar ao assistir à proliferação de queimadas na Amazônia como se nada tivesse com o problema.

Em conversas com os repórtes, na entrada do Alvorada, Bolsonaro se absteve de informar que providências adotaria para deter as chamas. Preferiu apontar as ONGs como culpadas e os governadores como cúmplices das queimadas. Uma criança de 5 anos teria dado um conselho a Bolsonaro: "Presidente, não respire! Um hálito a mais e o balão arrebenta." Sem esse assessoramento especializado, o balão explodiu.

Bolsonaro ofereceu matéria-prima para toda sorte de ataques oportunistas contra o Brasil. O agronegócio brasileiro está sob ameaça de boicotes. O acordo Mercosul-União Europeia está sob questionamento. E o Brasil foi enfiado de ponta-cabeça na pauta de uma reunião do G-7, o grupo que reúne sete das maiores economias do mundo. Agora, Bolsonaro faz por pressão o que deixou de fazer por obrigação. Com sua retórica caótica, o presidente não combina com balões. Só descobre o ponto exato que antecede o estouro quando não adianta mais nada. Falta na equipe do Planalto a sensibilidade de uma criança de 5 anos.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.