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Josias de Souza

Beiço no FMI torna Macri favorito a eleger o rival

Josias de Souza

29/08/2019 01h34

Mauricio Macri assumiu a presidência da Argentina imaginando que tinha um destino: recuperar a economia estilhaçada pelo casal Néstor e Cristina Kirchner e obter um segundo mandato. Não imaginou que viraria uma fatalidade: o liberal que não entregou as reformas prometidas, recorreu a esdruxularias como o congelamento de preços e chegou ao final do mandato de joelhos, rogando ao FMI e outros credores privados que concedam mais prazo para o pagamento da dívida argentina, eufemismo para uma moratória negociada. Coisa do tipo devo, não nego, pago se o próximo governo conseguir operar uma mágica.

No plano político, a possibilidade de reeleição de Macri tornou-se uma hipótese ainda mais improvável. A conjuntura da Argentina está crivada de ironias. Macri tornou-se candidato favorito a fazer do oposicionista Alberto Fernández o administrador da ruína econômica que a vice dele, Cristina Kirchner, ajudou a construir. Nesse contexto, Jair Bolsonaro virou potencial adversário do presidente de um país amigo antes mesmo do dia da posse. Culpa do nariz do capitão, um pedaço do seu corpo que brilha, espirra e se mete onde não é chamado.

O aprofundamento do abismo econômico da Argentina terá pelo menos dois reflexos no Brasil. Haverá um freio nas exportações brasileiras para o vizinho. E os investidores estrangeiros olharão com desconfiança ainda maior não apenas para a Argentina, mas para toda a região. Embora o Brasil ostente inflação sob controle e reservas internacionais na casa dos US$ 400 bilhões, os donos do dinheiro tendem a enxergar esse trecho do mapa como uma espécie de Buenos Aires hipertrofiada.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.