Capitão motosserra devasta seu próprio prestígio
A popularidade de Jair Bolsonaro passa por um fenômeno muito parecido com um desmatamento. O Datafolha informa que o índice de reprovação do presidente, que era de 33% no início de julho, subiu para 38%. Ou seja, entre julho e agosto, abriu-se uma clareira de 5 pontos percentuais. O mais inusitado é que isso aconteceu sem o auxílio da oposição. Bolsonaro devasta o próprio prestígio sozinho. Submete sua popularidade a um processo de autocombustão.
Há focos de incêndio conhecidos, que Bolsonaro não conseguiu debelar. Cresce a aversão ao presidente, por exemplo, entre as mulheres, os brasileiros mais pobres e os moradores do Nordeste. Para piorar, acenderam-se focos novos de desgaste. O prestígio de Bolsonaro arde também em nichos do eleitorado que ajudaram decisivamente a levá-lo ao Planalto. Por exemplo: homens, moradores da região Sul e brasileiros de alta renda e escolaridade.
Bolsonaro mantém relativamente preservada uma reserva de apoiadores mais fieis. Somavam 33% em julho, somam 29% agora. Quer dizer: mesmo nessa bolha o viés é de baixa. O presidente já se definiu como capitão motosserra. Quem opera o equipamento é sua língua. Ela fala dez vezes antes que o dono consiga pensar. Fez isso ao comentar os resultados do Datafolha: "Você acredita em Papai Noel?", perguntou a língua ao repórter que inquiriu o presidente sobre o tema.
A boa notícia é que o governo está apenas começando. A má notícia é que, tomado por sua capacidade de produzir crises do nada, Bolsonaro não oferece muitos motivos para quem deseja avaliá-lo de forma positiva. O mais trágico é que, ao devastar a lógica e o bom senso ao seu redor, Bolsonaro cria um ambiente de instabilidade econômica que mantém acesas as chamas que consomem o seu prestígio.
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