Falta a Bolsonaro política de rolagem de cabeças
Dois assessores graduados do Ministério da Economia meteram-se numa contenda inusitada. De um lado, Carlos Costa, secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade. Na outra ponta, Luiz Augusto de Souza Ferreira, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Bolsonaro meteu-se no bololô. Informou que uma cabeça descerá à bandeja, quiçá duas.
Carlos Costa achou que seria uma boa ideia dermitir Luiz Ferreira. Mas foi desobedecido. Pior: foi desafiado. Luiz, o demitido, disse à revista Veja que Carlos quer vê-lo pelas costas porque recusou-se a atender aos seus "pedidos não republicanos." Bolsonaro diz estar "louco para saber" o teor do pedido.
"Já entrei em contato com o Paulo Guedes. E quero saber que pedido é esse." Justo, muito justo, justíssimo. "Não pode ter uma acusação dessas. Vão dizer que ele ficou lá porque tem uma bomba debaixo do braço. Não é esse o meu governo. Já determinei para apurar. Um dos dois, ou os dois, perderão a cabeça".
Muito louvável a inquietação de Bolsonaro. Certos episódios não podem mesmo ficar sem esclarecimento. Mas falta ao governo uma política qualquer sobre a rolagem de cabeças.
Admita-se que a preocupação de Bolsonaro com os costumes de sua administração seja genuína. Neste caso, o presidente poderia abrir o inventário dos seus próprios erros com o fornecimento de algumas respostas:
1) Por que não desceu à bandeja a cabeça do ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), condenado em primeira instância por improbidade administrativa?
2) Por que continua sobre o pescoço a cabeça do ministro Marcelo Álvaro Antonio (Turismo), encrencado em inquérito sobre o laranjal do PSL em Minas Gerais?
3) Se o propósito é a moralização, por que o auditor fiscal Roberto Leonel, xerife do ex-Coaf, teve o pescoço passado na lâmina se sua prioridade era zelar pela ética?
Torça-se para que Bolsonaro descubra rapidamente que pedidos contrários aos interesses da República Carlos Costa endereçou a Luiz Ferreira. Reze-se também para que o capitão consiga ajustar sua foice, pois um presidente que adia a degola de ministros sob suspeição e ceifa cabeças cujos miolos estavam voltados à preservação da moralidade acaba transformando a falta de critérios num processo de desmoralização do próprio governo.
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