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Josias de Souza

Aras teve apoio de quem quer sedar investigações

Josias de Souza

25/09/2019 22h21

Aprovado com folgas pelo Senado (68 votos a 10), o novo procurador-geral da República, Augusto Aras, foi à sabatina na Comissão de Constituição e Justiça com a certeza de que jogava um jogo jogado. Para não estragar o placar, o escolhido de Jair Bolsonaro adotou um timbre ensaiado. Disse o que a maioria da plateia queria ouvir.

Em certos momentos, Augusto Aras foi tão escorregadio que deu a impressão de ser a favor de tudo ou absolutamente contra qualquer outra coisa, desde que o Senado avalizasse sua indicação. Suas palavras mais valiosas soaram no final das frases, depois de conjunções adversativas como "mas", "porém", "contudo"…

Ele é a favor da Lava Jato, mas avalia que os métodos devem ser aprimorados. Acha que Deltan Dallagnol fez um bom trabalho, contudo acredita que se a força tarefa de Curitiba tivesse gente com cabelos brancos, não teria cometido excessos, teria observado o princípio da impessoalidade.

Observou-se durante a sabatina uma cena inusitada. Renan Calheiros fez rasgados elogios à decisão de Jair Bolsonaro de indicar Augusto Aras para a Procuradoria-Geral. Freguês de caderneta da Lava Jato,

Renan convive no Senado com Flávio Bolsonaro, investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por suspeita de peculato e lavagem de dinheiro. Interessa Renan e ao primogênito de Bolsonaro aplicar um sedativo no aparato investigatório do Estado.

Resta torcer para que Augusto Aras perceba que, uma vez aprovado, não deve satisfações a ninguém, exceto à Constituiçao e à sociedade brasileira. do contrário, exercerá um papel duro de roer.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.