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Josias de Souza

Dilma evolui de cuidadora de netos para humorista

Josias de Souza

30/09/2019 14h55

Dilma Rousseff parece ambicionar um reposicionamento no mercado da política. Ao negar-lhe um mandato de senadora, o eleitor mineiro devolveu a ex-presidente petista à função de cuidadora de netos. Exausta dessa atribuição, Dilma tenta a sorte como humorista.

De passagem por Madri, Dilma revelou seu novo viés humorístico ao discursar na festa de 130 anos de uma entidade sindical espanhola. A criatura de Lula falava sobre o drama prisional do seu criador. Expresando-se num idioma próprio, que oscilava entre uma língua parecida com o português e um dialeto qualquer do castelhano, Dilma disse a certa altura, que Lula representa o "sonho de que um outro mundo é possível".

A ex-presidente tentou explicar-se. Declarou que o "sonho" de Lula "tem uma base real muito forte, porque provamos que é possível crescer e distribuir renda." Tomada pelas palavras, Dilma parece ter sido picada por um mosquito transmissor da amnésia. O sumiço da memória apagou da oratória de madame o seu próprio papel na história. Desapareceu sobretudo o intervalo de sua Presidência situado entre os anos de 2013 e 2016.

Nesse período, a economia brasileira encolheu 6,8%. E a política empregocida da gestão Dilma produziu um salto no desemprego de 6,4% para 11,2%. Graças à inépcia da gerentona de Lula, o desemprego saltou de 6,4% para 11,2%. Foram ao olho da rua algo como 12 milhões de trabalhadores. Deu no que está dando.

Noutro trecho do discurso, disponível na internet, Dilma enalteceu a Petrobras. Afirmou que a descoberta do óleo do pré-sal elevou a estatal "de posições não muito importantes no fornecimento de petróleo para a sétima empresa de petróleo do mundo." Esqueceu de mencionar um pódio no qual a Petrobras foi ao topo. Sob a cleptocracia petista, a maior estatal do Brasil tornou-se campeão mundial de corrupção.

Dilma enalteceu a "inocência" de Lula e criticou Bolsonaro. Esqueceu de lembrar (ou lembrou de esquecer) que o capitão chegou ao Planalto graças sobretudo ao antipetismo, a maior força eleitoral da campanha de 2018. É como se Dilma tivesse recuperado sua ambição política. Antes mesmo de se firmar como humorista, parece decidida a dar um salto. Deseja transformar-se na própria piada.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.