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Josias de Souza

Reforma da Previdência virou balé de elefantes

Josias de Souza

01/10/2019 18h35

A votação da reforma da Previdência no Senado, que parecia trivial, virou um balé de elefantes. Impossível celebrar avanços como a retomada do processo de votação, sem levar sustos com os buracos que a coreografia dos elefantes abre no terreno.

Ao comentar a aprovação da reforma previdenciária na Comissão de Constitução e Justiça do Senado, nesta terça-feira, o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil), elogiou muito o papel do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e do líder do governo, Fernando Bezerra. Os elogios de Onyx tornaram a análise da conjuntura simples como o ABC.

A, o Senado havia retardado a tramitação da reforma da Previdência para chantagear o governo. B, Jair Bolsonaro manteve na liderança o investigado Fernando Bezerra (MDB-PE), comprometeu-se a assegurar verbas orçamentárias para os senadores, apressou nomeações para cargos federais y otras cositas más. C, os elefantes do Senado recolocaram a Previdência na pauta e adicionaram novas exigências à pauta da chantagem.

Num instante em que volta ao baralho a carta da ameaça de novo adiamento, vale a pena recordar: Na versão original, a reforma da Previdência previa uma redução de despesas da ordem de R$ 1,2 trilhão em dez anos. A proposta saiu da Câmara com uma economia de R$ 933 bilhões. No Senado, a economia projetada é de R$ 877 bilhões em uma década. E não há a garantia de reinclusão de estados e municípios na reforma. Isso foi empurrado para uma emenda paralela que sumiu momentaneamente do debate.

Na campanha eleitoral, as coisas ficaram relativamente fáceis para Bolsonaro. Tão fáceis que o candidato apenas repetia que, eleito, dissolveria a aliança do governo com os corruptos e governaria ouvindo a sociedade. Hoje, o governo participa do balé de elefantes representado no Senado por Fernando Bezerra, um cliente da Lava Jato, e Davi Alcolumbre, um neoaliado de Renan Calheiros. O país já viu esse filme, cujo enredo escora a rendição ao arcaico na necessidade de aprovar reformas modernizantes. A fita não tem final feliz. A rendição é integral. A modernização fica sempre aquém do necessário.

Atualização feita à 00h35 desta quarta-feira (02/10): O plenário do Senado aprovou o texto-base da emenda da reforma previdenciária. Na votação das emendas que visavam modificar o texto, o governo sofreu uma derrota que deve lipoaspirar a economia pretendida pelo governo em R$ 76,4 bilhões. Assustado, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, suspendeu a sessão. O processo de votação será retomada no final da manhã desta quarta.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.