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Josias de Souza

Senadores passam a sujo reforma da Previdência

Josias de Souza

02/10/2019 16h43

O Senado concluiu, finalmente, o primeiro turno da votação da reforma da Previdência. Antes mesmo da realização do segundo turno, já é possível afirmar o seguinte: os senadores demonstraram no debate sobre a reforma que não estão à altura da realidade do país. Esperava-se que passassem a limpo a proposta aprovada na Câmara. Mas um pedaço do Senado decidiu passar a sujo a emenda constitucional previdenciária. Não melhoraram o texto. E ainda conseguiram piorar o que já não era ideal.

Estava entendido que os senadores trabalhariam para  manter a economia obtida na Câmara: R$ 933 bilhões em uma década. E tentariam reintroduzir na reforma os servidores de estados e municípios. Fariam isso numa emenda à parte, que seguiria para a apreciação dos deputados, sem prejuízo da promulgação de todo o resto. Pois bem. Os senadores lipoaspiraram a economia, reduzindo-a para cerca de R$ 800 bilhões em dez anos. Foram para o beleléu, por ora, R$ 133 bilhões.

A emenda paralela, que deveria seguir para a Câmara com um tópico único —a questão de estados e municípios— virou um caldeirão em que se misturam encrencas que os deputados já haviam tratado. E não há na Câmara a mais remota disposição de voltar a esses temas. Ou seja: corre-se o risco de perder a oportunidade de desarmar a bomba dos servidores estaduais e municipais, que vai explodir dentro dos cofres do Tesouro Nacional.

Como se tudo isso fosse pouco, os senadores passam a reforma previdenciária a sujo num ambiente de chantagem explícita. Cobram definições sobre a partilha de dividendos de petróleo com governadores e prefeitos, o que é republicano. Exigem otras cositas más.

Na parte em que é republicana, a exigência dos senadores é burra, pois entregar dinheiro de petróleo a estados e municípios sem resolver o passivo previdenciário é como entregar com uma mão e retirar com a outra. Na parte em que é espúria, a chantagem inclui nas exigências compensação pela futura aprovação da indicação de Eduardo Bolsonaro à embaixada brasileira em Washington. O despudor revela deixa que certos senadores ainda perambulam pelos corredors do Congresso com um código de barras na gravata.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.