Excetuando-se a corrupção, tudo muda no país
Num instante em que o Supremo Tribunal Federal informa ao país que até o passado descrito em sentenças ratificadas em instâncias superiores é incerto, a prisão de auditores que prestavam serviços à Lava Jato serve para realçar um fenômeno nacional: tudo muda no Brasil, exceto a corrupção, que é amazônica e permanente.
Na fase pré-mensalão, crimes do poder não costumavam acabar em castigo. Nada acima de um certo nível de renda era tão grave que justificasse um desconforto além da conta. O culpado, quando pilhado, tinha seus dias de dissabor. Mas jamais ia parar na cadeia. A impunidade era um outro nome para normalidade.
Os fiscais da Receita que trabalhavam para a Lava Jato e, simultaneamente, cobravam propina de investigados da Lava Jato agiam como se tivessem a certeza de que a volta do Brasil ao normal era uma questão de tempo. A punição de oligarcas políticos e empresariais não era o fim da impunidade, mas uma oportunidade de negócio a ser aproveitada.
De acordo com a força-tarefa da Lava Jato no Rio, o chefe da quadrilha era o auditor Marco Aurélio Canal. O mesmo que elaborou dossiê sobre 133 contribuintes, entre eles o ministro Gilmar Mendes, do Supremo, e sua mulher. Na ocasião, Gilmar atribuiu o dossiê ao que chamou de lavajatismo.
A elaboração do dossiê e os dados contidos nele não foram tratados na investigação deflagrada no Rio. Mas a Procuradoria informou que a quadrilha de auditores já estava sob monitoramento antes do vazamento que fez soar os bumbos da irritação de Gilmar. Ou seja: quando estava sob supremo ataque, a Lava Jato alvejava o mesmo auditor que incomodava Gilmar.
Se esse episódio serve para alguma coisa é para evidenciar o seguinte: Diante de um cenário de corrupção sistêmica, os responsáveis por investigar e punir a bandidagem precisam unir forças, não o contrário. Punam-se os fiscais corruptos, não a Receita. Higienizem-se os meios sem conspurcar os fins.
Num cenário em que o Supremo Tribunal Federal opera para lipoaspirar os resultados da Lava Jato, anulando o passado criminoso estampado nas sentenças, a oligarquia corrupta esfrega as mãos. Restaurando-se o ambiente em que proliferam os negócios espúrios, os larápios não perdem por esperar. Ganham.
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