Descaso ético cria no governo um drama estético
Indiciado pela Polícia Federal por falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa, Marcelo Álvaro Antônio permanece na poltrona de ministro do Turismo. Já estava entendido que o compromisso de restauração da moralidade assumido por Jair Bolsonaro com seus eleitores em 2018 virou estelionato eleitoral. Mas o cemitério de reputações que cresce ao redor do presidente produziu um quadro dramático.
O problema da atual administração não é mais apenas moral. Considerando-se o desprezo de Bolsonaro pela ética na política, uma dose de preocupação com a estética do seu governo já seria um extraordinário avanço. Imaginou-se que houvesse método no descaso. O bolor, por contraste, conferiria à imagem do capitão um insuspeitado frescor.
Sucede, entretanto, o oposto. Ou o presidente começa a afastar os feios que se acotovelam à sua volta ou consolidará sua imagem de personagem horroroso. Afora o titular do Turismo, enrolado no laranjal do PSL mineiro, há na Esplanada personagens como um ministro denunciado por fraude em licitação e tráfico de influência (Luiz Henrique Mandetta, da Saúde) e um condenado por improbidade (Ricardo Salles, do Meio Ambiente).
No Planalto, despachando a um lance de escada do gabinete presidencial, há um outro ministro que confessou ter feito caixa dois (Onyx Lorenzoni, da Casa Civil). Na liderança do governo no Senado, há um ex-ministro de Dilma Rousseff às voltas com inquérito por corrupção (Fernando Bezerra).
Tudo isso e mais o primogênito Flávio Bolsonaro, momentaneamente blindado por duas liminares do STF contra os avanços de um processo por peculato e lavagem de dinheiro. Incapaz de oferecer bons exemplos ao país, o presidente transforma sua despreocupação com a ética num ótimo aviso.
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