PSL: Bolsonaro quer auditar contas que ignorou
Jair Bolsonaro "exige" a realização de auditoria externa na escrituração do PSL. A exigência deve ser mencionada assim, entre aspas, porque há por trás da iniciativa um quê de encenação. Embora tenha chegado ao partido apenas no ano passado, o capitão alega que deseja perscrutar as contas dos últimos cinco anos. Curiosamente, desprezou a contabilidade ao escolher o PSL como hospedeiro de sua candidatura presidencial.
O fechamento do acordo que juntou os interesses de Bolsonaro às conveniências de Luciano Bivar, o dono do PSL, foi formalizado numa nota divulgada em janeiro de 2018. Nela, não há vestígio de preocupação dos signatários com a transparência da contabilidade. No texto, Bivar apenas realçou ter "muito orgulho" de receber no partido Bolsonaro e sua candidatura presidencial. E o então candidato declarou que se sentia "muito à vontade" num partido no qual enxergava total "comunhão de pensamentos".
Não havia orgulho nem comunhão, apenas interesses. Deve-se a súbita fome de "transparência" contábil de Bolsonaro ao sucesso do empreendimento. Convertido na segunda maior bancada da Câmara, o PSL administra em 2019 um fundo partidário de R$ 103 milhões. Como Bivar não compartilhou a caixa da forma que os bolsonaristas desejavam, o capitão decidiu forçar a porta.
Em notificação extrajudicial avalizada por Bolsonaro e 21 parlamentares do PSL, Bivar foi informado de que tem cinco dias para abrir os livros do partido. Do contrário, os bolsonaristas recorrerão ao Tribunal Superior Eleitoral. Um dos subscritores da peça esclareceu ao blog que o objetivo da iniciativa é produzir "um barraco".
Dito de outro modo: deseja-se criar um fato que sirva de "justa causa" para a saída dos deputados fieis a Bolsonaro do PSL sem o risco de perda do mandato. No melhor cenário, imagina-se que os parlamentares consigam levar as fatias do fundo partidário correspondentes às suas respectivas votações. Fácil de falar, difícil de obter. A legislação favorece o partido.
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